Invasão e obras inacabadas revoltam moradores do Arraial d’Ajuda

Moradores do Loteamento Villas do Arraial, no bairro São Francisco, em Arraial d’Ajuda, reclamam de uma invasão que vem se formando há cerca de um ano no local. Segundo os denunciantes, junto com a invasão, o desmatamento tem sido constante na mata no caminho que vai para a vala. O bairro tem cerca de 20 anos, e a área é considerada de classe média alta, com lotes no valor de R$ 80 a R$ 100 mil, e com tamanhos a partir de 360m2.

De acordo com o advogado e morador Vinícius Parracho, no final de 2019, houve primeiro a invasão do terreno chamado lixão de podas, para onde a prefeitura levava as podas de árvores da cidade. “Essa invasão atingiu terrenos em volta do lixão. Quando isso aconteceu, um dos donos conseguiu uma liminar para que os terrenos fossem desocupados. Ele ganhou o direito de reintegração de posse e as pessoas que invadiram esses terrenos migraram para o Villas do Arraial, dividido em duas etapas, e a maior parte está no Vilas II”.

Segundo ele, “trata-se de uma área em expansão e estima-se que cerca de 500 famílias estão tentando se instalar ali”. Ele conta ainda que já houve reintegração de posse da área, mas as famílias retornaram ao local. Os moradores dizem que “não se sabe a origem, mas são antigos movimentadores de invasões, pessoas sem teto que fazem disso um negócio”.

A questão é que essas invasões acabam desaguando em outros problemas depois. E o mais imediato é o desmatamento. “Todas essas áreas são de mata, de nascentes dos rios Mucugê e Pitinga. Tudo isso está sendo destruído”, alerta Vinícius, ressaltando que, como é um loteamento regular, já tem energia elétrica e água. Os moradores dizem ainda que sentem falta de uma ação das autoridades competentes exigindo que o zoneamento seja respeitado.

A representante da Associação de Moradores do Villas do Arraial, Andrea Balman, testemunha que o desmatamento é constante. “A gente pode citar, por exemplo, a Embasa, que para fazer uma obra, há dois anos vem tirando árvores, com autorização da prefeitura porque, a embasa tem legalização junto à Secretaria de Meio Ambiente”.

Andrea diz que a mata do rio, na subida para o Arraial, vem sendo retirada por moradores que beiram o rio, ali mesmo no bairro da vala. “Todo dia tocam fogo na mata e depois vêm com facão e outras ferramentas e ainda dizem na nossa cara que a mata está queimada”. Ela reclama que tudo isso tem sido denunciado, mas ninguém faz nada. “Os proprietários entram na Justiça, conseguem a retomada da posse das terras, a polícia vai lá tira os invasores e eles acabam voltando. Infelizmente diz-se por aí que tem cobertura de vereadores”.

Interesses políticos

De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Samuel Reis, a Embasa tem licença para as obras, que são de interesse público e têm cunho social. “A empresa está fazendo uma obra licitada e tem licença ambiental”, garante. Quanto ao desmatamento, Samuel diz que a secretaria recebeu denúncia sobre o local. A prefeitura notificou a Embasa, mas os moradores continuam reclamando.

Para a representante dos moradores do Villas do Arraial, o meio ambiente, o grande atrativo para que moradores viessem se instalar no local há 20, 30 ou 50 anos, não é mais o mesmo. “Hoje a gente já não pode bater no peito e dizer que mora em lugar preservado, cuidado. É tudo uma grande mentira. Invasões para todos os lados, plantões de Meio Ambiente que a gente telefona e ninguém atende. E se atende é dois dias depois que a mata está toda derrubada ou já pegou fogo. Não existe combate. Aqui é terra de ninguém. A quem interessa esse desmatamento, toda essa invasão? Quem está ganhando com isso?”.