Índios da Jaqueira se destacam em competições de jiu-jitsu

Atletas de jiu-jitsu participaram, no dia 1º de dezembro, do campeonato interno promovido pela Academia Yamasaki Pataxó, na quadra do Colégio Mater, em Porto Seguro. No pódio, dois alunos indígenas, da Aldeia da Jaqueira, ganharam os primeiros lugares no absoluto na faixa branca: Janaron, com o 1º lugar e Sairi, no 2º lugar. No 3º lugar ficou o atleta Leonardo.

O evento foi beneficente e reuniu também atletas da Academia BTT do Ninja. Os alimentos arrecadados serão doados para o instituto Chico Xavier em Santa Cruz Cabrália. Embora tenha sido uma competição interna, segundo o professor Daniel Almeida, idealizador, o campeonato teve uma participação maciça dos alunos e foi muito produtivo.

Como tudo começou

Em dezembro de 2017, uma ideia levou à Aldeia Indígena da Jaqueira um esporte com muitos movimentos parecidos com a luta patyumiwkaay, praticada pelos índios: o jiu-jitsu, arte marcial de origem japonesa, O esporte chegou aolocal por meio do professor Daniel e a e a oportunidade surgiu em uma de suas visitas à reserva, acompanhando turistas pela empresa CVC, onde trabalha há 11 anos. “Eu levava o pessoal para conhecer a reserva, e eles têm uma luta grapeada, agarrada, e eu participava com eles e ganhava. Os índios perguntavam como eu tinha essa facilidade de derrubar e finalizar a luta. A resposta foi o jiu-jitsu.”

A partir daí, surgiu a ideia de montar um projeto para dar aulas na aldeia. Segundo Daniel, que é faixa marrom, o objetivo na aldeia é implementar a interação, o social, a disciplina. “O tatame é uma coisa que modifica a vida das pessoas. A minha vida modificou. Eu sou totalmente diferente de antes do jiu-jitsu. Perto de completar um ano, a gente vê a transformação ao levar o jiu-jitsu para as crianças da localidade. Vejo pessoas que tinham uma postura e hoje têm outra. Criança que era bagunceira hoje está mais tranquila.”

Treinos intensos

É no tatame que os pequenos extravasam as energias. Os homens e as mulheres treinam na mesma categoria e no mesmo horário. Mas às quartas, uma aula especial e gratuita prepara as mulheres no que diz respeito a fortalecimento muscular, movimentação, técnicas de queda e fôlego. “Porque algumas não se adaptam àquela coisa de jogo agarrado, porque já são mães, senhoras, então a gente faz um jiu-jitsu personal. Uma coisa mais elástica, como posições e rolamento”.

Para esta tarefa, as índias são orientadas pela atleta Jovana Almeida, que se dispôs voluntariamente. “Vejo que as meninas começam a treinar e se lesionam muito rápido. Já desistem com a primeira pressão; então tive a ideia de criar uma turma às quartas-feiras, para elas se sentirem seguras e, no futuro, voltarem a treinar com todo mundo”.

Atualmente são 24 alunos e a equipe do professor Daniel já participou de outro campeonato recentemente em Santa Cruz Cabrália, de onde voltou com o segundo lugar, com apenas cinco meses de treino.

Os treinos acontecem na Reserva da Jaqueira. Qualquer pessoa pode se inscrever. Segundo o professor, os benefícios do jiu-jitsu são inúmeros. Além da parte física, defesa pessoal, respeito em casa e compromisso, o esporte ajuda a dormir, comer e até respirar melhor.