Editorial edição 421

Publicado da edição 421 do Jornal do Sol 

Em tempos de pandemia, novos desafios caem no colo e mexem com a cabeça de trabalhadores, empresários, desempregados, velhos, novos, ricos, pobres, indistintamente. São quase quatro meses de mudanças radicais na vida das pessoas, sem vislumbrar uma luz no fim do túnel. O tema continua dominando as mentes e o noticiário local e nacional. E a bola da vez é a retomada das atividades turísticas, que chega dividindo opiniões.

Depois de muita pressão dos empresários e comerciantes, com direito a cobranças, chuvas de postagens nas redes sociais e até manifestações públicas, a prefeitura acabou flexibilizando as normas de fechamento e autorizando a abertura de diversos segmentos. Paradoxalmente, o planejamento de reabertura, inclusive dos hotéis e demais setores do turismo, acontece justamente no momento em que explodem os índices de contaminação pela covid-19 e quando a cidade não possui mais leitos disponíveis de UTI para receber os casos mais graves.

Por isso mesmo o tema divide tanto as opiniões. A discussão sobre a retomada do turismo chega envolta numa atmosfera de alegria, mas também de ansiedade, apreensão e medo, tanto por parte dos turistas, quando da população e dos colaboradores das empresas. Parados há tanto tempo, muitos deles se acostumaram à falta de rotina no ambiente de trabalho e agora se mostram apreensivos quanto ao novo ritmo, falta de conhecimento dos protocolos de higiene e saúde e até medo da contaminação.

Diversos hotéis que planejavam reabrir nesse mês de julho refizeram os planos e adiaram seus projetos para setembro, outubro, dezembro. Outros continuam sem previsão de data para voltar a receber os turistas e fazer girar a roda da economia. Para muitos desses reticentes, mesmo com a conta bancária sacrificada, a matemática do contágio é simples: quanto mais turistas, maior a disseminação da doença, mais mortes, mais tristeza e comoção.

Entre a ala que não suporta mais realçar o vermelho da conta bancária, prevalece a aposta no bom senso das pessoas e na boa vontade dos colaboradores, de seguirem à risca os protocolos, não permitindo o avanço da doença. Uma aposta difícil, numa cidade onde o mais fácil mesmo é encontrar pelas ruas e praias aglomerações de pessoas sem máscara, rindo, fazendo festas e celebrando a vida, completamente alheias à gravidade do momento. Cada um sabe onde o sapato aperta, mas nesse momento, o mais importante mesmo, além de relaxar esse aperto é estar atento para que reabertura não passe a ser sinônimo de tiro no pé.