Número de moradores de rua triplica com a pandemia

O número de moradores de rua em Porto Seguro aumentou consideravelmente desde o início da pandemia do coronavírus. A informação é da Secretaria Municipal de Assistência Social. A secretária Luciana Parracho, que assumiu a pasta recentemente, atuou por um bom tempo como coordenadora dos centros de referência e apoio a esse público. “A gente já tinha cerca de 140 a 150 moradores de rua. E com a pandemia, aumentou para quase o triplo.”

“Eles estão nas portas das farmácias, bancos, pelas ruas, fora que a praça da Câmara está abandonada, cheia de mato. Lá ficam uns 30”, diz um leitor que não quis ser identificado. O crescimento, segundo Luciana, se deve a alguns fatores, como o fato de a pandemia ter vindo logo depois do Carnaval, quando muitas pessoas que vieram para a festa não puderam voltar para suas cidades de origem.

“Tanto moradores de rua de outras cidades, quanto pessoas que trabalharam no Carnaval de Porto Seguro, e que não eram moradores de rua, por não conseguirem retornar para suas cidades de origem, estão em situação de rua”, constata. Mas tem ainda aqueles que se encontram em outra condição: são pessoas que não conseguiram manter o pagamento de seus aluguéis e, por isso, estão desabrigados.

Luciana garante que o atendimento ao público-alvo não parou desde o início da pandemia. “No Centro POP (local onde os moradores de rua podem passar o dia em atendimento às suas necessidades pessoais), suspendemos alguns serviços, como trabalhos de grupo, oficinas e o período de descanso, para evitar aglomeração e garantir a segurança dos usuários e dos funcionários”. Mas segundo ela, o atendimento individual acontece diariamente, das 8h às 13h. “A gente atende a todos que vão para a porta do Centro Pop. Eles entram em número de quatro pessoas, fazem sua higiene pessoal, lavam suas roupas, recebem os kits de higiene e na saída a gente serve o café da manhã e a marmita do almoço”, enfatiza.

Atualmente, já é possível fazer outros atendimentos que haviam sido suspensos, como o psicossocial, documentação, encaminhamento para atendimento médico conforme a necessidade, ou aos Caps (Centro de Atenção Psicossocial). “Os atendimentos são feitos na área aberta, mas resguardando a privacidade de cada um deles”, garante a secretária. Luciana informa que em tempos de pandemia, o Centro Pop tem atendido entre 69 a 75 pessoas, diariamente. Em período normal, o atendimento é de cerca de 60 usuários.

Ela acrescenta que 90% dos moradores de rua são usuários de alguma droga. “É comum acontecer de a equipe conduzi-lo ao lar, quando a família, mesmo de fora da cidade, quer o parente de volta. A equipe providencia carro e leva na porta de casa, relata a ocorrência e tira foto com a família. Normalmente eles não querem sair da rua, porque o acesso às drogas é mais fácil.” Para quem busca ajuda na manutenção de seu aluguel, a secretaria disponibiliza o serviço de aluguel social, conforme Luciana.

 “Para pessoas que tinham suas casas, mas não puderam manter o aluguel devido à falta de emprego, a Secretaria de Assistência paga esse aluguel por até seis meses”. A entrega de cestas básicas também aumentou com a pandemia, fazendo com que fosse necessário estabelecer novos critérios - menos rígidos - de doação. Um dos serviços que está suspenso, devido à uma reforma, é o da Casa de Passagem, que deverá ser reaberta em breve.

Para estar na casa, os usuários do serviço precisam fazer tratamento de redução de danos. Mas, segundo relata a secretária, nem todos se mostram dispostos. “Existem pessoas que têm o espaço da rua como sendo deles. Eles não conseguem se manter dentro de um espaço com regras e com outras pessoas. Eles se negam, dão trabalho. Não é fácil”.