Editorial edição 411

Gerou grande comoção o caso do jovem de 19 anos, que sequestrou uma empresária, roubou seu carro, obrigou a mulher a transferir dinheiro para sua conta, e, não satisfeito, tentou estuprá-la e enforcá-la e ainda passou o carro diversas vezes sobre o corpo dela, com o intuito de tirar sua vida. Aí fica a pergunta: o que leva um jovem, no começo de sua vida adulta a cometer tamanha atrocidade? Como será a vida dessa mulher daqui pra frente, após sofrer uma violência desmedida, sem ter feito nada que justifique tanta covardia e sem a menor chance de defesa?

Uma recente pesquisa realizada no Rio Grande do Sul concluiu que a “violência extrema” caracterizada pelo ato de matar ou ferir, mesmo quando não há reação da vítima, tem sido praticada na grande maioria das vezes por jovens que abandonaram os estudos entre os 11 e 12 anos. Nada justifica, nem ameniza a culpa de uma pessoa que comete uma brutalidade dessas, mas é inegável: a falta de ocupação é uma porta de entrada para a criminalidade. E isso tem sido comprovado por inúmeros estudos realizados pelo país afora.

Em 1982, o antropólogo Darcy Ribeiro já chamava a atenção para a importância dos investimentos em educação para fortalecer as bases da cidadania e apontar caminhos dignos. "Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios", prenunciou o cientista social em sua célebre frase. No Brasil, a falta de investimento em educação culminou com o aumento exponencial do índice de criminalidade e a necessidade da construção de mais presídios, já que a população carcerária aumentou e continua crescendo em ritmo galopante.

Atitudes como a do indivíduo que violentou a empresária causam muita indignação na sociedade. E é natural que esse tipo de conduta gere revolta e sede de Justiça na comunidade. A prisão quase imediata do criminoso não reduz os estragos emocionais, físicos e financeiros provocados na vítima, mas cria uma sensação de alívio, de saber que ele será punido (pelo menos é o que se espera) e principalmente, estará afastado do convívio da sociedade, evitando assim que novas vítimas possam ter suas vidas remexidas de forma tão perversa. Crimes violentos merecem punição exemplar.

Na outra ponta, mais do que nunca é necessário reconhecer a educação, a cultura e o esporte como componentes fundamentais para se interromper o fluxo de conversão dos jovens à criminalidade. E a situação tem se agravado a cada dia entre os “nem nem”, uma expressão bastante utilizada nos dias de hoje para se referir aos jovens que nem estudam, nem trabalham. Não se pode lançar sobre esses jovens o olhar paternalista, como se eles fossem apenas vítimas de uma sociedade excludente, que não lhes oferecem outros caminhos a seguir. Não existe sucesso sem luta e essa regra vale para todos, independente de classe social.

Mas é inegável também que muitos são os fatores que contribuem para explicar a violência e a criminalidade, porém bem poucos se aproximam tanto de um consenso entre os especialistas como o fator educacional. E todos os jovens e adolescentes que desejam ser alguém na vida deveriam ter o direito a oportunidades para tornar esse desejo realidade. E só tem um jeito para isso: ingressar no mundo da educação. Não há outra entrada. Nem outra saída.