Greve feminina

Publicado na ed. 406 do Jornal do Sol 

“I have a dream” (Martin Luther King)

Diante da generalizada corrupção, incompetência e arrogância dos políticos eleitos para serem os servidores da população em regime de democracia, mas que bem pouco servem, cabe curtir o sonho, que poderia se tornar histórico, como o de Martin Luter King: que as mulheres organizassem uma paralização no trabalho, só elas, sem liderança masculina; uma greve diferente apenas para demonstrar que, se elas cruzam os braços, nada vai para frente.

Vale citar a frase de um velho conhecido, pequeno agricultor que dizia sempre: “O pobre consegue viver sem os ricos, mas os ricos não conseguem   viver sem os pobres”. Nesta ‘dissertação’, podemos afirmar que, sem o trabalho das mulheres, a atual sociedade se perde.

O banqueiro, rico e cheio de compromissos, viagens, encontros, poderia fazer isto sem a ajuda da empregada? Os professores poderiam ficar fora de casa durante quatro ou oito horas, sem ter uma babá tomando conta dos filhos?

Que seria Porto Seguro sem diaristas, arrumadeiras, camareiras, cozinheiras, dançarinas, recepcionistas, vendedoras...? Se todas estas ‘servidoras’ cruzassem os braços, nem digo por um dia, mas até por uma hora - uma hora apenas... Na frente de cada hotel, mercado, supermercado, barraca... Que impacto criaria na cidade para turista e moradores?

E se elas tivessem um panfleto, bem simples, explicando o motivo da paralização e ficassem na frente dos lugares de trabalho, de braços cruzados, explicando os motivos pelos quais foram induzidas a fazer isto? Isso tudo poderia se tornar bem útil para a sociedade que presta atenção a todas as ‘porcarias’ e mentiras que passam na internet, mas não se preocupam com o trabalho bem duro que as mulheres fazem.

Continuando a sonhar, vamos pensar um pouco qual poderia ser o conteúdo deste panfleto:

- Precisamos de mais respeito, pois sem a mulher a vida humana acaba.

- Com o mesmo trabalho e qualificação, queremos o mesmo salário dos homens.

- As mulheres que cuidam também da casa, e de filhos, precisam de horário de trabalho reduzido.

- Chega de feminicídio, chega de pancadarias, as divergências se resolvem com o diálogo.

- Mulher não é objeto de prazer sexual, ou empregada do marido; sim companheira com direitos iguais.

É claro que poderiam ter muitas outras reivindicações, praticas e teóricas, mas o fundamental é que as mulheres se coloquem elas mesmas no patamar de igualdade, participação, respeito e consideração. Nada de ‘femismo’, nada querer ser considerada mais do que os homens. O respeito, a igualdade, a colaboração o companheirismo se alcançam com o respeito mútuo e a busca compartilhada das soluções. Se tiver mulher que acha isto utópico, impossível, despida-se também  dos sonhos.


Antonio Tamarri é professor de História e Teologia