“Quero mostrar que é possível fazer a diferença”

Entrevista: Vereadora Ariana Fehlberg (PR)

 

Aos 38 anos, e estreando como vereadora, ela é a primeira mulher eleita presidente da Câmara de Porto Seguro. Ariana Fehlberg (PR) é pedagoga e funcionária pública concursada, casada e mãe de dois filhos. Criada na roça e de família humilde, tem na mãe um exemplo na política. Chegando à presidência em um momento delicado da política local, ela demonstra confiança, humildade e determinação para enfrentar os desafios, defende uma relação sem arestas entre os poderes Legislativo, e Executivo e apoia a legalização do transporte alternativo. 

 

Com tantos desejando o cargo de presidente da Câmara, a que atribui sua vitória?

Atribuo primeiramente ao meu Deus, que me honrou. Desde que foi lançado meu nome eu sempre orei para que se fosse para ser, que Ele pudesse abrir as portas. Segundo, aos meus amigos e colegas vereadores que foram fundamentais para isso acontecer, e à minha família, meu esposo, que, em todo o tempo esteve junto.

Como foi essa articulação? Com candidatura, desistência e candidatura novamente?

Eu já vinha com o “Grupo dos Nove” há muito tempo. Começou sem ter um propósito e viramos amigos pessoais. Da afinidade saiu a ideia de lançar um nome. Desde o início eu queria ser presidente, mas lancei por lançar. O grupo foi crescendo, chegamos a 10 vereadores e sem imposição de que teria um só nome. Poderia ser qualquer um dos 10. E sobrou para mim, mas não deixa de ser uma articulação. Na primeira sessão era meu nome, depois tivemos uma sessão turbulenta. Chegamos a um denominador comum e decidimos lançar Bolinha - Kempes Neville (PPS). E aconteceu aquele imbróglio da Justiça e não teve a sessão. Uns cinco dias antes da eleição, conversamos. A outra parte dos vereadores também tinha um candidato e alguns conversaram para a gente unificar. Mas a gente tinha uma mesa fechada com Bolinha, Lázaro, eu e Robério e não chegamos a essa abertura. No final, acho que por eu ser mulher, eles decidiram por mim. Não houve interferência do Executivo. Pelo menos, que passasse para mim, não.

Qual é seu relacionamento com a prefeita Claudia Oliveira? E a relação da Câmara com o Executivo? Como será na sua gestão?

Sempre tive um bom relacionamento com Cláudia. Como pessoa e gestora, não tenho o que falar. Até disseram que eu e o grupo éramos oposição a ela. Gosto de deixar bem claro que o que queremos é que nossa Casa tenha uma independência de decisões, que seja posicionada. Tudo o que é bom para a coletividade, que seja cumprido. Acredito que Câmara e Executivo terão uma relação muito boa. Eu gosto de relação amistosa e quero que tenha uma relação assim. A gente não consegue trabalhar tendo aresta. Tem que ter parcerias entre o Executivo, Legislativo e o Judiciário, desde que seja bom para o município. Espero da gestora Cláudia, por ser mulher como eu, que a gente possa ter dois anos de mandato bem produtivos.

Qual foi o teor da conversa da mesa diretora com a prefeita logo após a eleição?

Foi só apresentação, por ela ser a prefeita, mais por educação. Não teve nada acordado nem conversado naquela hora. E não tivemos nenhum contato depois daquilo. Fomos mostrar a ela que a Casa está à disposição para que venha fazer um trabalho que seja bom para o município.

Como presidente, quais as principais mudanças que você pretende fazer no funcionamento do Legislativo?

Estou fazendo um levantamento de tudo. Nomeei o advogado Roni Guerra como procurador da Câmara. E estamos pensando na melhoria do atendimento. Os gabinetes precisam de uma reforma. Quero arrumar para dar um bem-estar aos vereadores e às pessoas que vêm aqui. Fiquei sabendo que virão muitas obras para Porto Seguro agora e espero que minha Pindorama seja contemplada. É um distrito que tem menos atendimento em tudo. Passam muitas coisas ruins na mídia, mas lá tem muitas coisas boas, como pessoas que querem fazer projetos e não têm condições. Minha ajuda é limitada. Nasci lá, mas tenho 12 anos aqui em Porto. Minha família é de lá. Mas é extensivo, porque há vários lugares que precisam de atenção do Executivo. Pensamos em uma Câmara itinerante. Indo aos locais, você vê a necessidade de cada um. Um pedido só, de 16 vereadores, tem mais peso no Executivo.

Sendo a única mulher, como você é tratada pelos demais vereadores, todos homens?

Por ser mulher, no início cheguei meio travada. Eu sou tímida. Foi meio difícil mas tenho um bom relacionamento com todos eles. Me tratam com o maior respeito, carinho, educação. Como presidenta, muda porque é mais “senhora”. É mais formal. É o que mudou. Mas com a mesma tranquilidade.

Você acha que a prefeita Cláudia Oliveira termina o mandato?

Espero que se resolva a situação. A gente não sabe bem o teor de tudo. Eu não tenho julgamento. Muito se fala por aí. Se for minha vontade, continua mas justiça é justiça. Quem sou eu para falar se está bom, se vai ficar ou não vai ficar? Vai resolver independente de querer ou não.

E, no caso de um comprometimento do vice-prefeito, você está preparada para assumir a prefeitura de Porto Seguro?

Eu gosto muito de desafio. Eu sou de roça, trabalhei com enxada dos nove aos 17 anos, no sol e tendo sonhos e esperança de mudar tudo. Estudei e meu primeiro emprego foi num estágio no INSS, que todo mundo achava que eu não conseguiria e consegui. Depois me formei, me candidatei a vereadora e na primeira tentativa eu consegui. Desafio é para ser quebrado. Acredito sim que posso fazer. Espero que não seja necessário. E que a prefeita venha a terminar o mandato dela. A gente aprende todos os dias. A pessoa não nasce sabendo. Até com nossos filhos a gente aprende todos os dias. Tenho um filho com três anos e uma com dezoito.

O deputado estadual Jânio Natal teve alguma influência na sua eleição?

Não. Muito se falou, mas na realidade, falei com Jânio, o vi quando minha mãe era vereadora, em 2005. Ele me parabenizou pelo WhatsApp mas não teve influência de nada. Meu marido tem um bom relacionamento com Jânio, é amigo. Eu sou muito grata a Jânio pelo apoio no tratamento de meu pai.

Caso seja candidato a prefeito, Jânio Natal tem seu apoio?

Não posso dizer que tem o meu apoio, porque está muito cedo para decidir sobre apoio a quem quer que seja, mas é uma pessoa que eu gosto demais. Também adoro Lúcio. Sou nativa e conheço todo mundo. Tive uma reunião com a Unilíderes, cujo presidente é Luigi Rotunno. O projeto é muito bom e eu me interessei demais. E aí veio o questionamento de pessoas de que já abri a porta para um suposto candidato. A casa é do povo e vou atender qualquer um que seja candidato ou não. Eu vou ter que apoiar alguém, mas quero manter meu relacionamento com todos como sempre foi.

Quais são os principais desafios que você espera enfrentar como presidente?

Quero mostrar que é possível fazer a diferença como a primeira mulher na presidência da Câmara, fazer um belíssimo trabalho. Mostrar que não é só homem que pode negociar, fazer estratégia, articular. Mulher também pode fazer. Não sei porque nunca se conseguiu que uma mulher chegasse à presidência. Poderia ter vindo mulheres bem antes.

E o transporte alternativo, como será?

Continuo na defesa deles. Sou totalmente a favor. Acho que vamos ter mais liberdade de sentar com o Executivo para resolver a questão, que está rolando há muito tempo. O pessoal do transporte alternativo pode contar com a Câmara. O transporte coletivo de Porto Seguro é horrível. Já perguntei ao procurador do município, Hélio Lima o porquê de tanto descaso. A empresa não dá uma solução, uma satisfação para implantar algo que venha a funcionar. Ela precisa manter um bom serviço. Não podemos deixar nosso povo à mercê, como tem ficado.

Como se sente, continuando o legado político de sua mãe, a ex-vereadora Tia Nêga?

Ela é muito humana. Independentemente de ser ou não vereadora, ela sempre fez um trabalho social muito bom. E nos ensinou que a gente sempre tem que olhar para o próximo. Seja ele quem for. E a minha responsabilidade é bem maior agora por ser a primeira mulher, filha de uma ex-vereadora. Tenho que dar bom exemplo. Meu pai e minha mãe me ensinaram a andar correto. Não vai ser agora que eu vou desviar meu ensinamento.

Quais sãos os planos para seu futuro político?

Tudo é muito novo. Quando vim a ser vereadora, orei, conversei com a minha mãe e minha família, que estava com vontade de ser, mas que só iria se a família estivesse comigo. Cheguei para a campanha faltando apenas dois meses. Não poderia imaginar em ser vereadora e nem pensava em ser presidente em tão pouco tempo de mandato. Quando você tem um Deus que coloca na mão dele para resolver, nada impede.