Solidariedade une moradores do bairro Mundaí

Iniciativas mostram senso de coletividade e servem de exemplo para outros bairros

 

Moradores do bairro Mundaí, na Orla Norte de Porto Seguro, estão se reunindo em ações de solidariedade e verdadeiros exemplos de cidadania. Duas iniciativas têm unido forças para alimentar o corpo e a alma, e em favor da construção de um ambiente mais preservado e benéfico ao coletivo. A atitude de cada um tem preenchido importantes brechas onde o poder público não consegue atender sozinho.

Marina Galuppo Kosninsky, professora e empresária, lidera as duas iniciativas. Uma delas é o café solidário, servido desde o início do afastamento social devido à pandemia do coronavírus, no mês de março, a profissionais da limpeza pública que atuam no bairro, de segunda a sábado pela manhã. A ideia surgiu com uma pergunta: “como posso ajudar quem está próximo?” Segundo Marina, o objetivo é de oferecer uma sincera homenagem a quem está prestando serviços essenciais no dia a dia, em momentos tão difíceis.

Uma mesa farta todos os dias alimenta e aquece os corações dos quatro garis que atendem na localidade. “Virou família. É um prazer enorme dividir. E eles, além de nos servirem, nos dão a chance de poder ajudar, de podermos evoluir”, diz Marina. Ela afirma que os moradores têm sido muito solidários. “Dividimos as despesas e não pesa nada para ninguém. Servimos uma primeira refeição completa, equilibrada, com todos os nutrientes.” Leite, chocolate, queijo, geleia, presunto, café, mixto quente, bolo, ovo cozido fruta, salsicha e munguzá são alguns itens do menu, doado por voluntários.

“As doações são tão numerosas que dá para eles levarem também uma parte para se alimentarem depois”, diz a advogada Kátia Oliveira, moradora e colaboradora do projeto. “Tem funcionado muito bem e tem dado muito prazer a quem tem participado. Saber que eles estão bem alimentados, bem cuidados, isso não tem preço”, diz Marina. A solidariedade se expandiu. Com tantos mantimentos, os moradores puderam ainda doar 60 cestas básicas com kits de limpeza e higiene para os garis e também os catadores que atuam no lixão.

Mãos à obra 

A outra iniciativa surgiu a partir da formação do grupo de WhatsApp “Soluções Mundaí”, há cerca de um ano. O objetivo é resolver problemas e apontar soluções. Além dos moradores, também participam do grupo representantes da prefeitura e da Câmara de Vereadores. “O bairro não tem o hábito de cruzar os braços e esperar o governo municipal resolver os problemas. Estamos tentando nos cotizar e atender necessidades como instalação de placas de rua, limpeza do bairro, combate à dengue e animais peçonhentos”, diz Marina.

O primeiro desafio eram as placas de rua. “Fomos à prefeitura para tentar resolver o problema de mapear o bairro. As pessoas, o Samu, Corpo de Bombeiros, entregadores de pizza e taxistas entram aqui e não sabem onde estão. Um ano depois é que a gente está conseguindo colocar as placas pelo bairro”. As placas foram compradas e estão sendo instaladas pelos próprios moradores. A comunidade já cercou algumas saídas do bairro que poderiam servir como pontos de fuga de assaltantes, limpou lotes, aproximou a prefeitura e auxiliou na troca de lâmpadas. Também foram tratadas divergências entre vizinhos, como descarte da água de piscina, podas de árvores, horários de descartar o lixo e preservação das Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Segundo a empresária Christina Bussacos, moradora do bairro há 25 anos, os moradores se mobilizam como podem doando cerca, arames e até ajudando na segurança. “Quando posso ajudo com uma coisa ou outra. Pelo tanto que se paga de IPTU, o bairro não deveria estar como está. E a gente vai tentando melhorar.” Ela afirma que problemas como invasões e falta de pavimentação estão entre os desafios a serem trabalhados.

“É um grupo de cerca de 80 pessoas que, hoje, têm consciência de que nós somos os donos do bairro. A gente paga imposto, mas a demanda da prefeitura é enorme e não funciona. Temos pouquíssimos garis na Orla Norte. Então morador do bairro não pode se dar o direito de jogar nada na rua”, diz Marina, acrescentando que atualmente, os esforços estão sobre lotes abandonados com mato e lixo, resultados de especulação imobiliária. “O saldo do trabalho tem sido muito efetivo, a adesão ao grupo foi uma coisa muito rápida, que surpreendeu a todos nós muito positivamente. Com essa onda de coronavírus, todo mundo em casa está tentado focar no bairro e transformá-lo em um lugar melhor”, pontua Kátia Oliveira.

Comentários   

# ProfessorDecio Kosminsky 29-08-2020 22:10
"Parabéns, Marina. É de pessoas como você que o nosso país precisa, e não desses ladrões que se perpetuam no poder."
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