Marcio Atalla comenta dados do IBGE sobre sedentarismo


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente o último levantamento sobre a prática de esportes e atividades físicas na população de 15 anos ou mais, apresentando um dado alarmante: mais da metade da população brasileira está sedentária. A discussão sobre o que pode ser feito para que esse quadro seja pelo menos minimizado volta à tona. O preparador físico Marcio Atalla comenta o tema e fala sobre como começar um movimento favorável à saúde.
Sabe-se que a qualidade de vida se resume a uma somatória de hábitos relacionados à alimentação e prática de exercícios físicos. Porém, a situação atual dos brasileiros, que estão cada vez mais obesos (de acordo com o Vigitel 2016) e sedentários (conforme a pesquisa do IBGE), mostra que eles estão indo na direção contrária a um estilo de vida saudável.
Atalla afirma que “essa é a oportunidade de mudarmos o cenário do país e investirmos na saúde, para mais tarde colhermos os frutos de uma população mais sadia, disposta e independente, pois se continuarmos nesse caminho, os danos serão cada vez mais difíceis de serem reparados”.


O sedentarismo tem um custo violento, estimado em 68 bilhões de dólares por ano. Além de afetar a saúde, há um impacto em diversos outros âmbitos, como a economia dos países, o que mostra a importância de se repensar sobre o que é feito atualmente com foco na prevenção e voltar-se à medicina primária.
“O problema vai além de medidas superficiais e insuficientes, como sobretaxar ou reduzir ingredientes dos produtos. São necessárias boas políticas de saúde pública para munir as pessoas de informação, principalmente sobre prevenção e educação. Com a mudança da previdência, por exemplo, em 2040, cerca de 30% da população terá acima de 60 anos e se essa mesma parcela chegar até lá doente e sem autonomia, o quadro ficará insustentável”, conclui.

Como a população enxerga e justifica o sedentarismo

A falta de tempo é uma das frases mais utilizadas por aqueles considerados sedentários (38,2%), seguida de 35% que alegam não gostar de se exercitar. Atalla explica que “o não gostar de exercício é muito natural. Olhando para a evolução das espécies, o ser humano nunca fez atividade física por prazer, mas por necessidade. É uma questão de encontrar o que gosta: talvez não seja a caminhada e sim a natação. Ou a aula de dança. Com certeza, cada pessoa tem um tipo de atividade que agrade, basta descobrir qual é”.
Em relação à falta de tempo, essa é uma realidade, principalmente em grandes centros urbanos, mas pode ser adaptada. “É preciso ter em mente que para deixar de ser sedentário, não precisa começar a andar todos os dias durante uma hora. A mudança é feita aos poucos e de diversas maneiras”, diz Atalla.
Subir as escadas do lugar onde se mora ou trabalha, nem que seja, no início, poucos andares; se programar para a cada uma hora sentado, se levantar e circular para que o corpo não se acostume com a inércia; optar por estacionar o carro em vagas mais distantes do local de destino, entre outros, são atitudes que começam a fazer uma importante diferença na saúde.

Movimento na terceira idade

Segundo o IBGE, a população acima de 60 anos é a que menos se exercita, o que não se relaciona apenas com limitações da idade. Essas pessoas afirmam não se sentirem acolhidas em ambientes como a academia, que, para elas, são locais destinados ao público jovem.
Atalla conta que em sua intervenção em Jaguariúna, onde colocou em prática um projeto com foco na mudança do estilo de vida da população, algumas ações foram destinadas à terceira idade, fazendo com que fosse possível que essa geração também se movimentasse mais: “Propusemos que, após assitir à TV ou fazer outro tipo de atividade que não exigisse movimento, num período de aproximadamente uma hora, essas pessoas se levantassem e andassem pela casa durante seis minutos. No final do dia, elas juntavam mais de 40 minutos de movimento e nem percebiam!”.
Depois adquirir o hábito e reconhecer os ganhos fica mais fácil se movimentar. A primeira melhora é na disposição e no condicionamento cardiovascular, que se vê em uma ou duas semanas. Já com relação a ganhos mais efetivos, em até dois meses nota-se grandes melhoras nos índices glicêmicos, diminuição da pressão arterial, entre outros.

Responsabilidade e equilíbrio

Grande parte da população brasileira não tem condição financeira para investir parte de sua economia na atividade física. Porém, nem sempre tem por perto parques públicos que estejam preparados para recebê-las. Com isso, esse público quase nunca é estimulado a sair do sedentarismo.
Além do movimento, a alimentação tem um papel fundamental quando se trata de um estilo de vida mais saudável. Assim como o sedentário não deve de um dia para o outro começar a participar de maratonas, as pessoas também não devem acreditar em radicalismos com relação à alimentação. Dietas restritivas, excluir um ingrediente especificamente ou se restringir a comer apenas determinados alimentos não fará com que o estilo de vida se torne saudável.
“Aumentar o consumo de hortaliças, vegetais e frutas e diminuir o de gorduras e açúcar não vem contribuindo com a diminuição da obesidade. Por outro lado, sobretaxar alimentos ou políticas de redução de ingredientes, por exemplo, também não resolve. Já temos exemplos em outros países que tentaram esse tipo de ação e não deu certo. O problema é profundo e envolve educação populacional, o que não se faz da noite para o dia. Às vezes, determinado alimento até então “vilanizado” por exemplo, será o que vai dar um pouco mais de energia para o filho de alguém de baixa renda que só tem condições de consumir isso no momento. É preciso olhar o todo e não os detalhes. O trabalho feito em Jaguariúna é exemplo dessa realidade”, afirma o especialista.