Editorial edição 396

A discussão sobre o fechamento da praça da igreja do Arraial d´Ajuda para o trânsito de veículos acabou desenterrando e lançando luz sobre o debate de velhos problemas e necessidades locais. Veio em boa hora, e antes que seja tarde, a exigência do MPF, atendendo a recomendação do IPHAN acerca da necessidade de proteger um importante conjunto do período colonial, tombado pelo patrimônio histórico e cultural nacional.

Além de atribuir à prefeitura a missão de tomar todas as providências necessárias para fazer valer a proibição, o MPF ainda exigiu que todo o processo seja amplamente e democraticamente discutido com todos os segmentos locais envolvidos. Nada mais justo. Até porque, não basta colocar uma placa no local, ou mesmo policiais impedirem a entrada de veículos.

A decisão envolve uma série de questões que agora estão vindo à tona e que precisam ser tratadas com seriedade e equilíbrio, como a acessibilidade das pessoas com dificuldade de locomoção, limpeza e iluminação pública, horários para carga e descarga de mercadorias, acesso de moradores, hóspedes e comerciantes do local, além, de um dos maiores desafios da atualidade, o problema da segurança pública. 

Felizmente, a comunidade do Arraial já deu boas lições de senso de cidadania e espírito comunitário. Com todas as dificuldades que envolvem a tomada de decisões coletivas e sua aplicação, o distrito contabiliza conquistas valorosas. Como a defesa do Parque Central, localizado em área nobre, no miolo do Arraial, onde, apesar das inúmeras ameaças de invasões e dos interesses eleitoreiros envolvidos, a comunidade conseguiu manter a integridade da área, transformado-a em patrimônio público, destinado exclusivamente à instalação de equipamentos comunitários.

É verdade que os tais equipamentos, como praças, escolas e hospitais, estão demorando a chegar, mas o terreno está lá, abrigando algumas unidades importantes, como a delegacia e o estacionamento, que contribui decisivamente para desafogar o trânsito na Rua do Mucugê e nas áreas centrais do Arraial d´Ajuda, especialmente nos períodos de alta temporada. Mais uma conquista da coletividade, com seu Acordo Mucugê e outras ações que continuam rendendo frutos.

Enquanto isso, do lado de cá do Buranhém, Porto Seguro também tem suas lideranças conscientes e comprometidas com nobres valores da vida em sociedade. Mas parece que a coisa emperra nos interesses individuais, na burocracia e na inoperância do poder público, que até cria leis, mas é incapaz de garantir o seu cumprimento. Como a novela da proibição do trânsito de veículos pesados no centro da cidade, que se arrasta a tantos anos, que acaba minando na população a esperança de um final feliz.