Editorial edição 408

A passagem de mais um 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, convida à reflexão sobre os ecossistemas na Costa do Descobrimento. Temos motivos para comemorar? Ambientalistas, militantes e defensores da causa certamente vão dizer que não. De fato, é preocupante a situação em uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta. E a natureza vem dando a sua reposta a tanta destruição, desmatamento, poluição das águas, queimadas, tratamento inadequado do lixo, exploração abusiva dos recursos naturais, pesca predatória, invasões de encostas e áreas de preservação, comercialização de animais silvestres, captura de animais em risco de extinção e tantos crimes ambientais cometidos na calada da noite e também a olhos vistos.

Ao longo dos seus quase 30 anos de existência, o Jornal do Sol vem denunciando, ouvindo autoridades e estudiosos, alertando a população sobre as consequências da relação altamente destruidora do ser humano com o meio ambiente em nossa região. Nesta edição, estamos publicando um estudo realizado pela UFSB e IFBA, que identificou altos índices de contaminação por esgoto no rio Caraíva, uma das principais fontes de beleza, atração turística e esperança de sustentabilidade do vilarejo. A presença de coliformes nas águas do manancial, ameaça a saúde das pessoas e a sobrevivência do rio, que se confunde com a própria vida do lugar.    

Esta e as inúmeras ameaças à conservação dos ecossistemas em Porto Seguro passam, em primeiro lugar pela falta de consciência das pessoas sobre a necessidade de cuidar do nosso riquíssimo patrimônio natural, garantindo a sobrevivência da fauna, flora e do próprio ser humano. Caraíva enfrenta hoje um problema que atormentou a sede de Porto Seguro até os governos resolveram investir na preparação da cidade para as malfadadas comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Ou seja, de uma data em que não havia nada para comemorar, ficou o legado de importantes obras de infraestrutura, como a implantação da rede de saneamento básico em grande parte do município.

Até lá, como na Caraíva de hoje, a cidade não possuía rede de esgoto e todos os dejetos eram depositados em fossas sépticas. Como também não havia abastecimento, nem água tratada, as pessoas se serviam de poços artesianos. Só que muitos proprietários de pousadas e imóveis residenciais, ao invés de investir na construção de fossas capazes de suportar a produção de esgoto - e que por vezes precisavam ser esvaziadas por uma empresa especializada – simplesmente jogavam a merda diretamente nos rios e no mar. Quando não ligavam o esgoto nas redes de águas pluviais.

Hoje esta é a situação que ameaça também a maior preciosidade de Caraíva, que encanta visitantes dos quatros cantos do Brasil e do mundo. E os conhecedores da situação alertam para o risco da contaminação, que já atingiu o rio e chega ao mar, ameaçar também os poços artesianos. Não é um preço muito alto a ser pago pela negligência de moradores e pela irresponsabilidade dos governantes?