A volta à barbárie?

PUBLICADO NA EDIÇÃO 410 DO JORNAL DO SOL

 

Algumas medidas lançadas pelo atual governo brasileiro, sugerem reflexões preocupantes sobre o futuro da nossa sociedade.  Com a vinda do cristianismo, cuja lei principal é “amai-vos uns aos outros” as coisas começaram a mudar, mas sempre tivemos recaídas. Agora, com a chegada de muitos países a governos que se dizem liberais mas que se baseiam nos princípios do lucro econômico a qualquer custo, estamos correndo sérios perigos de catástrofes planetárias. Vejamos o estrago ecológico, a tragédia dos emigrantes, as mortes por fome, epidemias: flagelos que pareciam descartados, mas que agora ameaçam seriamente este nosso mundo.

“Mors tua vita mea” (do latim, a tua morte é a minha vida) e a flexibilização do porte e uso de armas

Este decreto, esperamos que nunca se torne lei, é muito perigoso pois a arma de fogo permite ataque ou defesa só em caso de guerra, onde os contendentes estão preparados. O bandido está preparado para o ataque; o cidadão, mesmo tendo a arma no assento do carro, ou debaixo do travesseiro, (será que consegue dormir?) não está com a arma em punho e vai levar a pior. Está-se aprofundando a teoria absurda que “bandido bom é bandido morto”. Sequer se pensa nos motivos que o levaram para este caminho, as condições de vida em que se encontra. Prevalece a cultura da violência, o lucro pelo comércio das armas, o crescimento das academias de tiro aonde os ouvidos estão “tapados” não só ao estrondo da explosão, mas também aos gritos de socorro que apelam pela igualdade, fraternidade e justiça social.

“Police verso” (do latim, polegar negativo) e a prisão obrigatória do usuário de droga

No Brasil é comum ver as pessoas se comunicarem levantando ou virando o polegar. Este gesto tem origem romana. O imperador, as autoridades, os participantes de uma luta dos gladiadores com espadas nos circos, tinham a possibilidade de exigir a vida ou a morte do gladiador que estava imobilizado. Se levantavam o polegar o perdedor tinha a vida poupada, se o viravam, tinha que ser morto, na hora. Verdadeira barbárie, gosto sádico de sangue!

A prisão obrigatória do “drogado” o leva a se abster do uso por um tempo, mas será que o cura, sobretudo tendo em consideração as condições dos nossos abrigos ou prisões? Recupera ou acaba? Também aqui estaria prevalecendo a lógica de se livrar das pessoas que “incomodam”, ocupam de forma imprópria espaços públicos; melhor esconder. Lógica perversa, que exclui a reflexão sobre os motivos que levam as pessoas a se tornarem dependentes. Mais uma vez, o lucro dos traficantes “legais” e ilegais, prevalece sobre a cura e prevenção. Porque, além das reformas da previdência, ajuste fiscal, não se pensa também numa reforma séria do comércio, do tráfico, do uso benéfico e maléfico das drogas?