André Marcelo Strogenski
Juiz de Direito e há 11 anos morando na região, André Marcelo Strogenski, é um paulista que descobriu já na adolescência suas aptidões para desenvolver seu trabalho na área do Direito. Com dedicação e foco, na juventude usou o tempo da melhor maneira que pôde, para estudar e se tornar um magistrado. Conhecido e respeitado pela seriedade com que trata os casos, o juiz Strogensky afirma que jamais sentiu a profissão como um fardo, mesmo diante do volume de trabalho e da grande responsabilidade que o cargo exige. Respondendo pelas Varas de Tóxicos; Juri; Fazenda Pública; Infância e Juventude e, até 2015, também pela Justiça Eleitoral, ele se mostra focado, porém acessível. Por isso mesmo, dedica seu precioso tempo a falar aos leitores do Jornal do Sol sobre sua vida, sua história e sobre temas polêmicos, como a redução da maioridade penal, o uso de drogas e a Justiça, vista por quem se dedica de corpo e alma ao que faz.
Como e quando o Sr. chegou em Porto Seguro?
Cheguei em março de 2003, quando assumi a titularidade de Santa Cruz Cabrália.
Como foi sua infância na sua cidade?
Morei até os 28 anos em São Paulo. Trabalhei quatro anos como advogado. Minha infância foi ótima, muito tranquila. Lá, a gente tem poucas opções de brincar em rua. Então, meus pais me levavam nas praças, junto com as minhas irmãs. Em brincava muito na USP, onde tinha um espaço bom, e eu jogava bola, como todos os meninos. Sempre tive tempo para estudar e tempo para brincar. Meus pais conseguiram dividir bem.
Como foi a escolha pela área jurídica e onde o Sr. concluiu o ensino superior?
Conclui o ensino superior nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em 1997. Muito se comentava em São Paulo que o Direito é uma área boa para concurso, para trabalhar. Então, naquela época aos 16, 17 anos, foi quando escolhi fazer o curso de Direito. Quando estava no segundo ano de faculdade, eu já tinha decidido que queria ser juiz. Comecei a direcionar o meu estudo para concurso. Nas atividades da faculdade a gente tinha que assistir a júris, audiências, e, naquele cenário todo, eu já me identificava. E decidi que queria a magistratura.
E o caminho até conquistar a cadeira de juiz, foi muito longo?
Foi difícil. Três anos estudando, sendo que nos dois últimos, eu estudava de 12 a 14 horas por dia, até aos sábados e domingos. Domingo à tarde era o único dia que eu tirava para passear, para descansar um pouco. Depois dos cinco anos de faculdade, no final de 1997, passei na OAB e em 1998 já fui advogar. Estudei, fiz pós-graduação e em 2002 eu passei no concurso.
Onde o Sr. começou a carreira e há quanto tempo?
Há doze anos. Tomei posse em dezembro de 2002. Comecei em Cabrália. Passei como substituto por Feira de Santana, Salvador e depois fui para Cabrália.
Como foi a mudança de estado, como foi a adaptação?
Não tive muito tempo para pensar em adaptação, porque quando fui para Feira de Santana, o trabalho era muito grande, então ficava das oito da manhã até às oito da noite. Ia descansar, no outro dia retomava a rotina, então não houve problema de adaptação. Vir para cá já foi uma orientação da carreira. O que mais pesava era ficar longe da família, meus pais e irmãos, que continuam morando em São Paulo.
Como o Sr. sente a responsabilidade de decidir o futuro e influenciar tanto a vida das pessoas? Chega a ser um peso?
A responsabilidade é grande, mas acredito que, com o tempo, a gente vai tendo mais preparação. A própria experiência vai nos dando outras percepções, ajuda a ter tranquilidade, ver com imparcialidade as coisas, os fatos, o que a defesa fala, o que o Ministério Público fala. A gente não pode ser parcial, não pode ter essa queda, do tipo: “ah, vamos prender todo mundo” ou “liberar todo mundo”. Você tem que ter a cabeça voltada para olhar o que cada um fala e ver o que mais se aproxima daquela verdade que se busca. Nunca tive sensação de peso. Sei da responsabilidade, mas nunca foi um fardo. É uma coisa que faço com gosto.
Quantos júris já foram presididos pelo Sr. aqui na região?
Difícil. Nunca fiz as contas. Com certeza mais de 50.
Já houve caso da família agradecer ao Sr. por uma decisão no final do julgamento?
Já, várias vezes. Geralmente nesses casos em que tem homicídio, a família agradece, embora seja um trabalho que eu tenha a obrigação de fazer. Não é nada feito para compensar a família da vítima. É o meu trabalho mesmo, mas acho que o próprio sentimento deles é de alívio, de ver um procedimento chegar ao final, ver um culpado punido. O sentimento da família é mais esse do que de agradecer por qualquer conduta minha.
O que é necessário para ser um bom juiz de direito?
Estudar, ter equilíbrio, uma atitude mais conciliadora, ter calma, saber mais ouvir do que falar. Essas são boas qualidades, além do conhecimento. O mais fácil é adquirir o conhecimento jurídico. O mais difícil é depois, essa percepção, esse feeling que você tem que ter, conhecer as pessoas pelo jeito, pelas atitudes. Isso tudo no começo é desafiador, mas depois de alguns anos, você já conhece porque tem alguns comportamentos padrão. Tipo o de não olhar no olho quando está mentindo, baixar a cabeça. A psicologia ajuda muito.
Em algum momento o Sr. tem dúvidas sobre que decisão tomar diante de uma ação? O que o Sr. faz nesses casos?
Na realidade em casos de dúvida, especificamente na ação criminal, eu absolvo. Não tenho problema nenhum com isso. Quando existem poucas provas, quando não há certeza, a mínima dúvida que seja, na verdade, para mim, o caminho é a absolvição. Porque aí sei que, se for uma pessoa problemática, que tenha de fato um comportamento repetitivo com crimes, adiante ela vai, de alguma forma, retornar e ser punida. Na dúvida, não condeno ninguém.
O Sr. é a favor ou contra a redução da maioridade penal?
Sempre fui a favor. Num cenário de 30 ou 40 anos atrás, entendia-se que um adolescente de fato não tinha uma capacidade de discernimento. Mas hoje mudou pelas informações que eles têm, pela internet, a rapidez nas informações. Então eles sabem muito bem. Acredito que você possa punir, não como se pune um adulto, mas poderia ter uma redução da própria pena, em razão de ter uma menoridade entre 16 e 18 anos. Ou até o próprio juiz, entendendo que, se no caso cabe ao invés da pena, uma medida protetiva. Há situações em que um adolescente de 17 anos já matou quatro, cinco pessoas. Não se admite que, num cenário desse, a pessoa não entenda o caráter ilícito, a gravidade da conduta dela.
O consumo de drogas em Porto Seguro é maior que nas outras cidades?
Sim. Temos peculiaridades, porque a cidade recebe muita excursão de adolescentes. E se incutiu essa ideia no Sul e no Sudeste de que aqui seria um local livre para consumo de drogas. Há o problema dos próprios monitores passando droga, nas barracas há esse fornecimento, é um problema generalizado na cidade. A primeira coisa a se combater é isso. É necessário fazer um bom trabalho quando o destino turístico for apresentado pelas operadoras. Além disso, é necessário fazer a repressão também. Aqui temos um maior grau de consumo do que em outras cidades da região por causa desses fatores e devido à disseminação do crack. O aeroporto é rota de tráfico e é pouco fiscalizado. O mar também é rota de tráfico. Fazem transporte de droga em barco de todos os tipos. Ainda tem o problema da cultura de que é uma coisa natural. E não é. Também há casos de pessoas que vêm para cá em busca de trabalho - isso acontece muito no Carnaval - e acabam ficando, mesmo desempregados. Cabe ao município fazer um trabalho com essas pessoas e promover o retorno delas para suas cidades de origem. É um trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Social. Muitos ficam no desemprego, às vezes não usam drogas, mas vão furtar.
O que as famílias podem fazer para livrar seus filhos da criminalidade?
O acompanhamento de perto dos pais, orientar sempre. Ver com quem os filhos estão andando, o grupo, ter sempre o contato com a escola, que também é um fator onde se tem alguns problemas. Os pais têm que acompanhar, vigiar e orientar seus filhos. Não tem outro caminho.
O que falta para que o cidadão tenha mais acesso aos benefícios da Justiça em Porto Seguro?
Reconhecer o valor que tem Porto Seguro para o estado, como cidade turística. E para o próprio Tribunal de Justiça, estruturar trazendo mais juízes e servidores e promovendo mais acessibilidade dos serviços à população.
Como o Sr. avalia o nosso sistema prisional?
É totalmente falho. O Estado não investe nos presídios, nem no problema carcerário. Atualmente, tem-se a ideia de que se não pode prender, solta. E por isso, pessoas perigosas estão sendo soltas. Isso tem que ser revisto. A prisão é uma exceção, lógico, mas há pessoas que têm de ficar afastadas da sociedade porque são perigosas mesmo.
Qual o maior desafio da sua profissão?
Fazer justiça. É o que a gente almeja sempre.
E a maior recompensa?
Dormir tranquilo. Saber que no final do dia fiz o meu trabalho a contento.
O que falta para Porto Seguro ser uma cidade melhor para quem vive aqui?
Muita coisa. Investimento do Estado, saneamento básico e em segurança pública, cuja estrutura não atende, principalmente aos distritos. Falta uma política de urbanismo, os bairros crescem de uma forma desordenada, falta asfalto e às vezes, água e luz. Nestes casos, não se dá uma condição mínima de dignidade para a pessoa viver.
Jogo Rápido
Signo: Gêmeos
Time do coração: São Paulo
Um hobby: andar de moto
Um cantor: Joe Ramoni
Um livro: A Sociedade Feudal, de Marc Bloch
Um prato predileto: carne, churrasco
Uma bebida: Coca Zero
Um prazer: reunir os amigos
Um lugar especial em Porto Seguro: Trancoso
Um lugar especial fora de Porto Seguro: a casa de meus pais em São Paulo
Uma pessoa especial: meu avô, Manoel, muito incentivador da minha carreira
Uma personalidade da cidade: Dra. Hernanda e o Pr. Otto, do Ampare, que fazem um trabalho desafiador
O Direito é: fundamental para a convivência humana
Justiça é: fundamental para ter paz na sociedade
O seu trabalho é: lindo
Uma causa que vale à pena: a busca da justiça
Uma causa perdida: entender o ser humano
A Copa do Mundo é: um congraçamentomundial bonito
Um motivo de orgulho: ter vindo de uma família sem tantos recursos e chegar aonde cheguei
Um agradecimento: à cidade, às pessoas de Porto Seguro
Uma mágoa: não costumo guardar rancor
Uma lição: a vida do meu avô, que veio sozinho de Portugal, lutou e antes de morrer deixou a família estruturada
Um sonho: viajar para o exterior
Uma qualidade sua: ser paciente
Um defeito: sou muito ansioso
Como você se define: sou gente boa
Felicidade é: estar bem consigo