A samaritana, a sede, bares e igrejinhas

Publicado da edição 416 do Jornal do Sol

Por quanto possa parecer estranho, tem relação entre bares e igrejinhas. São lugares de encontro e servem para saciar a sede material e espiritual.Agora é fácil perceber que o número de igrejas superou aquele dos botecos.Sem a preocupação de definir se foi um avanço ou um recesso, deve-se concordar que esses dois lugares existem em função da bebida e do encontro.

Em si, não representam perigo algum quando a dose não é exagerada. Vale também para as igrejas que, quando o volume dos alto-falantes é demasiado alto e a propaganda dos milagres é por demais enganosa, não prestam bons serviços.   

A sede (resumindo o diálogo de Jesus com a samaritana, no Evangelho de Jo.4,5-42)

Também Jesus teve sede e foi pedir água a uma mulher bem diferente: de outra religião, outra região e vida social fora dos parâmetros da época.

            - Dê-me de beber!

            - Como é que tu, judeu,pede de beber a uma samaritana. Estes dois povos não se dão bem.

            - Se você me conhecesse, você mesma me pediria de beber e lhe daria a água viva.

            - Impossível, tu não tem balde, ou tu te achas melhor que todos?

            - A tua água sacia a sede por pouco tempo, a água que eu tenho é para a vida toda.

A mulher, zombando de Jesus:

            - Me dê desta água, para que não seja obrigada a vir sempre aqui.

Jesus percebe o lance da mulher, esquece a água e pergunta:

            - Vá chamar teu marido.

            - Eu não tenho marido.

            - É verdade, você teve cinco maridos e o homem com quem vives não é teu marido.

Descoberta, a mulherteve que admitir que está na frente de um profeta, mas ainda tenta manter a conversa sobre religião.

            - Aonde devemos adorar a Deus? Nesta montanha da Samaria ou em Jerusalém?

Jesus anuncia uma nova maneira de rezar.

            - Os verdadeiros fiéis adoram o Pai em espírito e verdade.

            Cai a importância das igrejas, templos, santuários

A samaritana, descoberta na própria vida irregular, manifesta o desejo de conhecer quem possa iluminar a vida dela.

            - Eu sei que está por chegar o Cristo que nos explicará todas as coisas.

            - Sou eu.

Pela verdade que ela confessou e pela descoberta de Jesus, que conhece os segredos da vida, a samaritana, de prostituta se torna missionária. Esquece o balde com o qual queria desafiar Jesus, volta convertida e anunciando ter encontrado:

            - Aquele que me diz tudo o que fiz!

Então não é mais o lugar do culto, nem o tipo de religião, congregação, seitapara encontrar a Deus. Basta o desejo de conhecer a verdade, com sinceridade e disposição. Bares, igrejinhas, ou “igrejonas” são apenas meios que, quando usados de forma “irregular”, exageradas, ou com fins lucrativos, não ajudam a encontrar a “água da felicidade”. Até atrapalham, pois aumentaram também os “bêbados da religião”.


Antônio Tamarri é professor de História e Teologia