Publicado na ed. 402 do Jornal do Sol
Temos novo presidente, novos partidos, novos parlamentares, novos governadores; se o cidadão, que é o eleitor, ficar com a mesma atitude, teremos a mesma corrupção. O político é como o camaleão, muda a cor da pele segundo o lugar aonde se encontra. Por isso a mudança, a troca de servidores, colocar “pessoas novas, diferentes, de novos partidos, de outras tendências e ideologias” pode mudar bem pouco. É preciso mudar o conceito de cidadania, a maneira de viver em sociedade, o jeito de se sentir patriotas. O primeiro passo é ser viver a alteridade.
Alteridade é considerar a outra pessoa, mulher e homem, como eles são: gente, indivíduos como nós, parceiros, companheiros, e não rivais. É imprescindível superar o antagonismo, a competição, aquele jeito malandro, de se dar bem à custa dos outros, vencer a regra que deixa fazer algo só quando tem a garantia daquilo que se ganha. Antes do lucro, é preciso que seja garantido o bem, o serviço, a ajuda, inclusive a partir daqueles que mais precisam, pois, a violência, os assaltos, os roubos e a corrupção, na maioria dos casos, são praticados por necessidade mais do que por maldade.
- Não acredito nisto !!! – grita logo o cidadão “honesto”, intendendo como “honesto” o cara que faz tudo o que a lei manda, paga os impostos, mesmo quando os considera exagerados, vive a própria fé, moral, ecologia; em suma é um cidadão exemplar, enquanto os “outros” são os errados. Eis que aqui entra o conceito equivocado de alteridade, que não aceita que o mundo seja dividido entre bons e maus, mas sugere a ideia da partilha, propõe que o outro não seja julgado ou “rotulado” pelo que faz, mesmo quando erra, mas que o outro seja entendido, analisado e ajudado, antes de ser julgado e condenado. Como numa família boa, o pequeno, o mais frágil, o aleijado é aquele que recebe mais atenção, cuidado, cura; assim deve ser na sociedade, pois até que tiver gente passando necessidade, não haverá segurança, por mais que se queira armar, equipar, espalhar policiais, no território.
“Divide et impera”
A divisão da sociedade em “bons e maus, ricos e pobres, trabalhadores e vagabundos, nós e eles, patriotas e relés, contra e a favor” vem dos tempos do império romano, que, para submeter os “outros” adotava a lei do “divide et impera”; “divide e toma o poder”. Quando queria expandir as posses e o comando de outros povos, enviavam espiões, assessores, para fomentar a divisão entre os cidadãos.
Quando estes passavam a se confrontar entre si, com as armas, ofereciam a o apoio do exército romano a uma parte que, obviamente, ganhava a parada. Ao instalar o novo governo, se ofereciam como expertos, tutores da ordem e em breve se tornavam os governantes daquelas nações. Ao acontecer qualquer insatisfação, o exército romano chegava para instar a “pax romana”, a nova ordem, o império da... submissão, dos impostos, dos privilégios de uns contra a exploração dos demais. Se não for instalada a alteridade, a história vai continuar se repetindo também no nosso Brasil com “novos” governantes.
Antonio Tamarri é professor de História e Teologia