Reforma da Previdência, desigualdade e bem estar social

PUBLICADO NA EDIÇÃO 414 DO JORNAL DO SOL

A reforma da previdência está sendo apresentada como a salvação dos problemas econômicos do nosso País. Embora os resultados sejam previstos a longo prazo, muitas mudanças têm diversos aspectos “discutíveis”. A decisão de “não gastar mais do que se arrecada” é justa, mas deve ser avaliada com atenção, pois é preciso salientar que esta reforma parece mais transferir recursos de uma classe social para outra, ao invés de propor um verdadeiro aumento da arrecadação.

Pior ainda, enquanto as aposentadorias dos que “administram” continuam altas e intocadas, aquelas dos trabalhadores, estão sendo afetadas. Tem aqui uma enorme falta de análise e visão econômica, pois não se percebe que quando o trabalhador ganha o suficiente para viver, pode também contribuir; e não é necessário “tirar dele, ou aumentar a idade para receber o benefício”. Pelo contrário: mais a população tem boas condições de vida, mais pode aumentar o tamanho da arrecadação, sendo fundamental eliminar os privilégios e a sonegação dos impostos sobretudo das grandes fortunas.

Pobres ainda mais pobres

“O rendimento médio obtido do trabalho da população um por cento mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018. A parcela de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, enquanto os 50% dos menos favorecidos ganharam R$ 820. O avanço da desigualdade é resultado de um aumento de 8,4% na renda das pessoas mais ricas e as quedas nos ganhos da classe que formam os 30% mais pobre.” (IBGE. Gazeta: 12-10-19, pág. 12)

Faltam ou não estão sendo divulgados, os números dos que estão sendo considerados “ricos” ou “pobres”, mas é evidente que os “pobres”, tendo alcançados rendimentos dignos e suficientes para uma vida razoável, podem contribuir muito mais do que os ricos. A reforma deve incluir uma legislação que elimine a sonegação, a evasão, os privilégios dos empresários e as vergonhosas remunerações do Supremo Tribunal de Justiça, dos políticos e apadrinhados.

Para sair da crise não basta a reforma da lei, é preciso eliminar a desigualdade social, a falta de formação e informação, a propaganda do “império do lucro a qualquer custo”. Torna-se urgente e absoluto diminuir a propagação de doenças físicas e sociais, de epidemias, de notícias falsas e enganosas; vencer a mentira de dizer que a violência é praticada apenas pelos traficantes de drogas, pelos ladrões e marginais, esquecendo sobretudo que são a miséria, a falta dos recursos básicos e da possibilidade de viver com dignidade que promovem e geram esta situação de crise.

Com as reformas, precisamos de formação

A formação não se dá apenas nas escolas, mas também e, sobretudo na família, no bairro, nas igrejas, nas câmaras de vereadores, municipais, estaduais e federais, na mídia... Por quanto utópico possa aparecer, é preciso se voltar para a ética da vida, se voltar para uma fé que, ao invés de olhar apenas para o céu, convida a ver o bom que na terra pode ser criado quando a gente voltar a “sonhar junto”.


Antônio Tamarri é professor de História e Teologia