Filme "Na Rua Cova da Moça" participa de festivais nacionais e internacionais

Muito conhecida pelo povo portossegurense, a história da rua Cova da Moça, se transformou em documentário, eternizando assim Josephina e a tragédia que se abateu no Solar dos Martírios, em 1852, sendo apresentado em diversos festivais de cinema.

Em outubro, o curta-metragem foi selecionado no 3° Festival Curta (C)errado (2021), em Uberlândia - MG. E teve sua exibição aberta ao público em formato online, devido a pandemia. A estreia nacional, rendeu uma excelente repercussão sobre o documentário, principalmente entre a população de Porto Seguro. Já em novembro, a película foi exibida na programação do IV Festival de Cinema de Trancoso (2021).

Os próximos festivais para a apresentação do Na Rua Cova da Moça será este mês de marco no First-Time Filmmaker Sessions By Lift-Off Global Network (2022), na Inglaterra e One Earth Awards (2022), em Bangalore, Índia.

Roteiro

Por meio do depoimento de Dona Morena, a diretora e produtora, Adel Lage traz a reflexão – muitas vezes sofrida e sentida pela imersão na memória da infância de uma mulher afro-indígena, nascida em 1963, que conviveu com os últimos vestígios da história de Josephina, em uma linguagem que se assemelha à poesia, trazendo à tona um assunto que vem se desmistificando e deixando de ser um tabu: a violência contra a mulher.

Idealizado inicialmente para ser exibido em um seminário acadêmico sobre Fontes Orais - Lendas, narrativas e memórias populares na Universidade do Estado da Bahia - UNEB, a película, que tem pouco mais de 10 minutos, foi gravado em 2017 e com recursos próprios.  Mas foi somente em 2021, que a direção decidiu produzir em formato de documentário e difundir em festivais de cinema.

Segundo a diretora, a escolha do roteiro, partiu da premissa de uma narrativa autônoma e a participação da Dona Morena foi muito assertiva. “Ela cuidadosamente aborda a violência contra mulher e de como a história da Cova da Moça se tornou representativa para a memória coletiva da população de Porto Seguro. Também mostramos como o universo da História Oral é complexo e diversificado”, explicou.

É a primeira vez que a história é apresentada em película, mas Adel utilizou como material de pesquisa outros autores que falavam sobre o assunto. “Para a produção deste filme, foram utilizados outros materiais de pesquisa como um trecho do texto do livro Porto Seguro: a nossa história comum, do autor Jorge Maltieira (1968), o luso-brasileiro esteve na cidade em 1963, e fez um desenho da sepultura de Josephina, mostrado no curta-metragem. Assim, como a leitura do livro Josephina, A Moça da Cova da Moça do Romeu Fontana (1985), como referência complementar”, citou.

Lenda ou Verdade?   

De acordo com a autora, não há como precisar se é lenda ou verdade a história de Josephina. “Faltam de materiais documentais do caso de Josephina em arquivos públicos; como recortes de jornais da época, manuscritos - suposta carta trocada pelos os irmãos envolvidos na tragédia, desconhecimento ou esquecimento das identidades reais - origens, nomes e sobrenomes dos indivíduos. Não é possível confirmar se realmente aconteceu e de como teria acontecido em detalhes. A história é ainda tratada como uma lenda”, declara.

Ficha técnica:

Elenco: Dona Morena

Direção, Roteiro, Captação de Imagens e Fotografia: Adel Lage

Edição de Vídeos e Sons: Adel Lage e Hygor Balthazar

Tradução e Legenda: Hygor Balthazar

Realização: Casa Bubu Produções

Quem é Dona Morena? (Por Adel Lage)

“Nascida em Porto Seguro, Alouzia Cristo Leite, conhecida carinhosamente como Dona Morena, é uma mulher afro-indígena, marisqueira, casada, mãe de quatro filhos e avó de duas netas, também é possível citar que ela é sobrinha de Dona Higina Cristo Oliveira, a primeira professora de Trancoso.

 Quando criança, morou com sua família no bairro Pacatá, onde cresceu ouvindo a sua avó Maria Cristo dos Santos contar a história da tragédia que ocorreu na Rua Quintino Bocaiúva, no Solar dos Martírios. A partir da convivência com o casarão e a história de Josephina, ela narra com descrição imagética e de pertencimento.

A narrativa de Dona Morena tem uma caraterística primordial para este documentário, é pelo fato de ser uma mulher falando sobre a violência contra outra mulher. Em alguns momentos no depoimento, ela toma para si as angústias de Josephina. Deixando mais evidente a importância desta história para outras mulheres, mais de um século depois. Diferente das narrativas transmitidas por homens que comumente ressaltam uma romantização ficcional da mulher e dos envolvidos nessa tragédia.

Dona Morena relembra os principais locais do evento, em um passado reconstruído do esquecimento ao apagamento histórico. A narrativa dela, transporta o ouvinte para uma Porto Seguro hoje pouco conhecida, e de como aquela sociedade lidava com este assunto. Desde a chegada na comarca dos envolvidos na história, a tragédia e a “assombração” do casarão na Rua Quintino Bocaiúva, também como o impedimento do enterro da moça no cemitério, a decisão para o sepultamento no antigo caminho da praia das pitangueiras - hoje Rua Cova da Moça, e de como a sua campa ganhou devoção por parte da população portossegurense”.


 Imagens: Divulgação

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