Quem navegou nas águas do rio Buranhém há pouco mais de 40 anos, conheceu um leito de águas mais profundas. Atualmente, a pouca profundidade é uma ameaça à navegabilidade do rio e preocupa autoridades e empresas que administram embarcações, já que a travessia é algo rotineiro na vida de moradores, trabalhadores, estudantes e turistas. A dragagem surge como a alternativa necessária à manutenção da navegação nas águas do rio.
Ainda não se sabe quanto vai custar devolver ao Buranhém as condições de navegabilidade. De acordo com o secretário de Meio Ambiente do município, Samuel Reis, há duas etapas a serem cumpridas. Primeiro, o diagnóstico da situação do rio, que já está em fase de discussão, e depois a dragagem propriamente dita. Esse levantamento envolve um estudo topográfico para conhecer a quantidade de areia que deverá ser retirada. “A prefeitura está tentando viabilizar o diagnóstico, mas ainda não se sabe o custo disso e do serviço de dragagem, que é muito caro”, adianta.
Empresas responsáveis pela travessia das balsas, sociedade civil, Marinha, Prefeitura (Secretarias de Meio Ambiente, Turismo e Transportes), e Universidade Federal do Sul da Bahia tentam, juntas, buscar soluções. A depender do valor, é possível que a Prefeitura assuma os custos do diagnóstico, mas os recursos para a dragagem deverão vir do Governo do Estado (Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e Turismo), Governo Federal (Ministérios do Meio Ambiente e Turismo), e financiamentos de longo prazo.
Por que o rio ficou raso?
Na década de 70, uma intervenção do Governo Estadual retirou as curvas do rio, naturalmente sinuoso, criando um canal em linha reta. A mudança teria o objetivo de evitar enchentes na área do assentamento da Ilha do Pau do Macaco, criado nos anos 70 e localizado no Km 50 da BR 367. As informações são do engenheiro Luís Antônio Araújo Jatobá, proprietário da empresa de travessia de balsas RioNave, que mora em Porto Seguro há 32 anos e conhece a história do rio Buranhém como a palma da mão.
O resultado, segundo ele, foi o aumento da velocidade da correnteza e, consequentemente, o assoreamento, ou seja, acúmulo de sedimentos na foz do rio, gerando um volume de areia que segue ao longo do estuário até a saída da Barra. De acordo com o empresário, na época, o serviço de travessias ainda era incipiente, mas o rio era mais profundo e, por isso, a navegação mais facilitada. “Há 15 anos eram 5 metros de profundidade. Hoje são 2,5 metros”, argumenta.
Jatobá acredita que um erro na avaliação das consequências é a principal causa da erosão, assoreamento e invasão das margens, com até 30 metros de floresta retirados. “A curtíssimo prazo, o Litoral Sul ficará sem balsas nos dias de lua cheia e lua nova, nos horários de maré vazia”, alerta. Atualmente, apenas barcos de pesca, lanchas e balsas conseguem atravessar sem problemas. “Ainda não ficamos encalhados, mas estou advertindo que isso vai ocorrer”, assegura o dono do Zeca Jatobá, balsa de transporte de passageiros, e de outras embarcações.
Os pontos mais comprometidos são o canal de navegação das balsas - que passou de 200 para 60 m de largura, Marina Buranhém, Tarifa dos Pescadores, e Requeira, que era um canal de saída, na Ponta do Apaga-Fogo. Ainda segundo Jatobá, “a dragagem autorizada do canal de aproximação da Ilha dos Aquários contribuiu para o assoreamento, pois a areia dragada não teve o confinamento adequado, e, só agora, isso está acontecendo”.
O empresário observa que “o efeito barragem já é visto sob a passarela do Arraial d’Ajuda, provocado pela invasão do Rio Buranhém pelo Hotel Quinta do Porto. No canal de navegação foram cravadas estacas e colocados piers flutuantes, prejudicando as manobras das embarcações da travessia institucional”.
O Capitão de Corveta Julio Cesar Santos do Amaral, delegado da Capitania dos Portos em Porto Seguro, afirmou que a Marinha tem se mantido atenta ao problema do assoreamento do rio e que a instituição tem buscado passar orientações técnicas aos setores envolvidos no processo de dragagem. Cabe à Marinha analisar o Pedido Preliminar de Dragagem e segundo ele, a empresa que executar o serviço deverá apresentar à Marinha documentação em consonância com as Normas da Autoridade Marítima e licença para a dragagem, visando a autorização do início da atividade.