1º de outubro foi a data escolhida pela ONU, em 1991, como Dia Internacional das Pessoas Idosas. A data foi criada para estimular discussões acerca dos direitos das pessoas idosas em todo o mundo. No Brasil, o Estatuto do Idoso, aprovado em 2013, foi um importante avanço nas garantias de direitos das pessoas da terceira idade. Mas, embora haja motivos para comemorar, na prática, ainda há muito o que se conquistar. Empatia, amor e valorização são alguns exemplos.
A constatação é da voluntária Alcione Leal, responsável pela comunicação da Associação de Terceira Idade Doce Lar, na Agrovila, em Porto Seguro. No asilo, criado por iniciativa particular, há 21 idosos de 50 a 102 anos de idade. Eles são da região, mas há também mineiros e até um rondoniense. Funcionando desde janeiro deste ano, o asilo já começou encarando o desafio de cuidar de 18 idosos acometidos pela Covid-19, em abril. O abrigo tem capacidade para 80 internos.
“Tivemos a pandemia, na época tínhamos 18 idosos e todos se contaminaram. Primeiro 10 deles, que foram medicados e ficaram em isolamento, e depois de 15 dias,após novo teste, os outros oito acusaram ter os anticorpos contra a doença”. Estes se recuperaram naturalmente, sem maiores complicações, segundo Alcione. “Alguns ficaram febris, outros apresentaram sintomas de resfriado. A gente até questionou o médico porque os nossos idosos não tiveram outros sintomas, e ele disse que tudo é de acordo com o corpo e o organismo, que bem alimentado, com medicação em dia, e bem hidratado reage de forma mais positiva”.
A voluntária, que acompanha diariamente a rotina dos idosos, afirma que a instituição tem muito zelo pela alimentação deles. “São seis refeições diárias. A gente cuida bem disso. Essa reação não é só com a Covid. Eles têm as comorbidades como diabetes, hipertensão, Alzhaimer, mas não têm outras doenças.É bom saber que eles estão sendo bem cuidados. E isso se reflete na saúde deles”, diz. As visitas estão mantidas, cumprindo os protocolos da Anvisa e Visa, mas os contatos com a família são feitos em sua maioria por vídeo-chamadas, por escolha dos próprios familiares, para não haver riscos de contaminação.
Doações são bálsamo
Embora particular, o Doce Lars sobrevive também de doações de empresários e moradores. “Há uma mensalidade mas nem todos têm condição de pagar. É uma instituição sem fins lucrativos, mas não tem ajuda dos Governos Federal, Estadual e Município”, afirma Alcione. Ela diz ainda que é muito comum as pessoas acharem que, por ser particular, o lar não precisa de ajuda. “Tem alguns idosos que nem aposentados estão. É bem difícil ver a má vontade de quem deveria estar lutando pela causa. Quando a gente abriu a instituição, não pensamos em governo nos ajudar. Mas a gente não achou que eles fossem dificultar tanto. Ainda há muito preconceito, desinformação, e falta de empatia com a causa. Infelizmente eles não são vistos como precursores da nossa história e sim como um custo”, desabafa.
Mas em contrapartida, as pessoas e empresas que contribuem são bálsamo para a instituição – “eles são fantásticos”, diz Alcione. As doações chegam em forma de colchões, travesseiros, geladeira, sofá, alimentos econtribuição financeira.No local, uma equipe formada por duas técnicas de enfermagem assistente social (voluntária), a médica parceira Jana, uma cozinheira, quatro cuidadoras, um auxiliar de serviços gerais, e voluntários na administração e comunicação atendem o estabelecimento.
A maioria tem carteira assinada e a folha de pagamento chega a cerca de R$ 10 mil. Muitos voluntários se apaixonam, mas não retornam. E, para manter a qualidade do atendimento, Alcione afirma que é necessário o cuidado em pagar os profissionais que fazem parte da equipe. A partir de outubro, os idosos vão receber atendimento em fisioterapia.Mas as despesas não param por aí. Tem os impostos municipais, as compras de medicamentos, fraldas, energia elétrica, proteínas – carne e alimentação em geral.
O lar de idosos funciona onde eram as instalações do Ampare, instituição de acolhimento infantil. O espaço foi reformado, é amplo, com área de banho de sol, área verde com árvores frutíferas. “Os idosos caminham por lá, fazem colheitas, tem uma horta e flores, e estamos fazendo um orquidário. A gente entende que é importante essa terapia”, afirma Alcione. Seu Orico Roberto é o cuidador da horta. O carinho é visto em cada folha cultivada. Com certeza, seu Orico é daqueles inquietos que sabem que, enquanto houver vida, sentir-se útil é o alimento para a saúde do corpo e a alma.
Quem quiser contribuir, pode entrar em contato pelo telefone: (73) 99819-0151, ou efetuar depósitos: Caixa Econômica Federal,agência: 3948, conta: 4697-0, operação: 003, em nome da Associação Doce Lar.