Moradores de Santo André, distrito de Santa Cruz Cabrália, estão se posicionando contrários à realização de uma festa de Réveillon na vila, com previsão de ser realizada na praia. Segundo os organizadores das manifestações, o vilarejo, área de preservação ambiental, “enfrenta o oportunismo do turismo acidental”, num evento que dura, em média, quatro dias.
Dia 25/09 eles se reuniram e se manifestaram no Campinho contra a realização do evento, que na opinião deles, agride a natureza e, por isso se torna um turismo predatório, muito diferente da tradicional festa do Réveillon feita no encontro do rio João de Tiba com o mar, com a participação de moradores, turistas e as 18 barracas que ficam no local.
A reclamação é de que “nos últimos anos alguns produtores de São Paulo viram a Vila de Santo André como o local perfeito para grandes festas de Réveillon, apoiados por altos patrocinadores, vendendo ingressos caros, chegando com a promessa de trazer um novo público, dar visibilidade nacional ao povoado”.
Segundo Andréa Pitta, que faz parte da liderança do movimento, três festas com esse perfil teriam acontecido, sem oferecer qualquer benefício à comunidade, e sem agregar novos turistas. “Deixando nossa natureza cada vez mais degradada com esse tipo de eventos em uma Área de Preservação Ambiental e praia de desova de tartarugas marinhas, espécies em extinção”, diz a carta de manifesto.
Os manifestantes afirmam que, em contrapartida, a festa de Réveillon do Pontal da Vila “se profissionalizou, criou uma marca, produtos, conquistou maior visibilidade na região”. Andréa afirma que “todos os seguimentos apoiam - estabelecimentos locais, moradores, as próprias barracas – porque, além disso, é uma praia de desova das tartarugas. Quando esses ventos acontecem, acaba subtraindo a renda do lugar. É uma falsa sensação de ajuda ou de apoio, porque esses são grandes organizadores, vão para essas cidades, montam uma estrutura, contratam meia dúzia de pessoas do local, e toda a parte de bebida e comida é comercializada nesse espaço”.
Ela afirma ainda que, normalmente, as pessoas participam das festas à noite e descansam durante o dia, gerando um efeito contrário. “Eles não circulam, não almoçam nos lugares ficam descansando, e com o passar do tempo, os estabelecimentos locais foram percebendo essa situação. Outra questão é que, com a pandemia – afirma Andréa – “Santo André, por ser vocacionada como turismo de bem estar e saúde, acabou atraindo outro tipo de turista, que busca sossego, lazer, tranquilidade; ele foge de festas e eventos dessa natureza. Quando acontecem esses festas, aquele turista que tem um tiquet médio interessante, acaba fugindo do lugar e o registro do destino para ele fica deturpado”.
“Eles - organizadores dos grandes eventos – têm um discurso muito superficial, de cuidar da natureza, mas isso pra eles é recolher o plástico da festa. Isso não é turismo sustentável. Com os moradores, ambientalistas e ONGs que estão lá em Santo André, isso não tem mais aderência. O tipo de progresso que nós queremos é racional, que preservem a natureza e contemplem as pessoas do local. Uma nova manifestação está marcada para dia 11/10, às 10h, em frente às barracas de praia da vila.
O que dizem os organizadores
De acordo com Carolina Félix, da empresa FX Talents, empresa organizadora do Réveillon Da Vila, o evento tem respaldo da prefeitura. “O Réveillon vai empregar pessoas dentro da comunidade e ser um dos únicos dos 10 eventos no Sul da Bahia com selo ambiental. Nossa maior preocupação é a comunidade. O Réveillon Da Vila não é feito por pessoas de fora, como eles estão dizendo”, diz. Ela afirma ainda que o terreno onde a festa acontece é de um morador local e que há participação de nativos da vila.
“Não existe essa história de que a gente está levando algo de fora. No ano passado, a gente levantou a bandeira dos barraqueiros, de levantar um projeto de revitalização junto com o ex secretário de turismo Marcel Kemps. E o meu intuito sempre foi que a comunidade fosse a beneficiada, cuidar do lixo dos barraqueiros, da festa de Réveillon que eles fazem, eu sujam a praia com plástico, eu sempre estive envolvida para cooperar de alguma forma”.
Carolina Félix afirmou a festa será realizada e que o público esperado é de 600 pessoas. Para as adequações ambientais, foi contratada a empresa Eco Organismo, que estaria cuidando das questões junto com a Secretaria do Meio Ambiente.
“Encaminhamos um documento a pedido do secretário Fernando, de Meio Ambiente, e além de tudo, a gente também coopera com alguns projetos dentro da comunidade e estamos construindo pautas juntos com a comunidade para construir um legado”.
O projeto Da Vila, é de um bar de praia boutique, destinado à temporada de final de ano, para atender por cerca de oito horas para cada um dos quatro dias de abertura, nos dias 29, 30, 31/12 e 02/01. Na programação deste ano estão nomes como de Djs e artistas, como Elba Ramalho, Bhaskar, Dre Guazzelli, Caraivana, Priscila Luz e Banda. No projeto, a empresa organizadora afirma que “a expectativa de público para os eventos respeitará todas as determinações dos órgãos competentes, o que poderá ser readequado, caso seja necessário”.
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