Acabou?! - Um conto pré-eleitoral

No bairro do Cambolo, todo mundo lembra ainda da “Escola Libertos” e diversos ex-alunos vieram visitar os velhos diretores, para entregar os “santinhos” dos candidatos. Eu fingi estranheza:

- Queridos, eu sou bastante idoso, mas tenho memória boa. Vocês acham que preciso de “santinho” para me lembrar em quem votar?

- Não, diretor... É para falar dos velhos tempos e os senhores podem entregar estes santinhos para os vizinhos e conhecidos. O nosso candidato é...

- Não precisa me dizer nada. Eu vou dizer logo pra quem votarei. Votarei em quem escrever no programa dele como vereador ou prefeito o que ele mesmo pode realmente fazer.

- Nos diga diretor...diga!

- Apenas três coisas, pois todas as promessas de campanha (educação, saúde, saneamento básico) dependem da aprovação da câmara; as que entrarem na pauta...

- Mas diga, professor, o que um servidor pode fazer, sem depender do voto dos demais?

- Ele pode dizer (e seria obrigação que todos os servidores prestassem conta): quanto vai ganhar em salário e outras contribuições; quantos e quem serão os assessores dele, quanto vão ganhar, e quais funções vão ter; em terceiro lugar, publicar a cada mês, na fachada da câmara, quanto entrou e saiu das contas públicas.

- Mas, diretor... O tempo passou rápido, temos que visitar muita gente...Foi um prazer revê-lo!

- Ei, quase gritei atrás deles, e o santinho!? Fugiram!!!

Até os Bolsonaros prestam contas

Na revista Super Interessante de setembro 2020, na pagina 67, tem esta pequena notícia, não escreveram quem captou a fonte e de onde, mas diz o seguinte:

“R$ 65,2 milhões. É o quanto os Bolsonaros já pagaram, em salários, para parentes empregados em seus gabinetes.”

Todo mundo sabe que a procura de se tornar candidato em qualquer função publica é, sobretudo um investimento financeiro. O que deixa estarrecidos é que o investimento para “ganhar” uma eleição é bancado pelo estado. Quer dizer que é a sociedade que paga os gastos da campanha e depois sequer sabe quantos os “financiados” por ela ganham, seja na campanha ou no cumprimento das funções. Nem precisa dizer que os salários deles são muito, mas muito acima do que ganha a maioria dos “financiadores”. A pandemia do coronavírus está “reduzindo”, até acabando com muitos orçamentos familiares, mas este “encolhimento” da economia não atinge os funcionários, sobretudo os de alto escalão.

Acabaram a farra da propaganda política, os comícios, a vergonha ilegal dos carros de som, das contratações avulsas, da troca de casacos, de partido, de aliados das promessas espatafúrdias, dos conchavos, alianças e rupturas... Agora iniciou a era do silencio e da repartição do bolo, inicia-se a era em que “os servidores” agem na surdina para “recuperar” o que não gastaram e realizar o mais extravagante negócio onde o dono (o povo) é quem paga, e o servidor é quem embolsa. Se o povo engolir ainda esta situação, as eleições teriam passadas em vão. E preciso superar a fase burlesca das eleições e entrar na fase certa em que a sociedade assume a direção das causas públicas. Neste sentido, as eleições não acabaram. Sim, começam agora, com o povo que assume o seu papel de promotor e fiscalizador do bem público.


Publicado da edição 426 do Jornal do Sol - Antônio Tamarri é professor de História e Teologia

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