Tecnologia auxilia no estudo e preservação dos corais

A tecnologia, quando usada para o bem, pode favorecer uma cadeia produtiva inteira. É assim na ciência recifal e no trabalho desenvolvido pelo Coral Vivo. Seja por meio de fluorímetros, espectrômetros de massa, experimentos em laboratório - inclusive com sequenciamento e identificação de DNA -, ou em mesocosmo -  que traz para dentro do laboratório, as mesmas condições físico-químicas de água e simula condições adversas no ambiente marinho, a tecnologia tem auxiliado na proteção e preservação dos corais.

O Doutor em Oceanografia e Coordenador de pesquisas do Coral Vivo, Miguel Mies, explica que não existe quase investigação ou ciência sobre corais sem ter tecnologia, pois além do trabalho de campo, há o expediente em laboratório. “E os dois dependem da tecnologia. Os corais são seres que fazem fotossíntese através de seus parceiros simbiontes, aquelas microalgas que vivem em seus tecidos. Para medir essa fotossíntese, a gente tem fluorímetros portáteis, que medem se a fotossíntese está funcionando bem ou não no coral. Em laboratório, para identificar um tipo específico de alga, utilizamos amostras que tem o DNA extraído, sequenciado e identificado”, revela.

Exemplos

Mies comenta que há exemplos incontáveis do uso da tecnologia e o mais recente é o experimento em mesocosmo, um sistema que aproxima o campo, do laboratório e que está conectado à natureza.

“Por meio dele é coletada a água do recife e, em laboratório, são realizados análises e experimentos, como se estivesse na natureza, em menor escala. No mesocosmo simulamos a presença de contaminantes, aumento de temperatura, estresse térmico, acidificação por conta de CO2 e como isso afeta o organismo. A partir daí, produzimos dados de vários organismos com diferentes funções no recife”, ressalta.

Contaminantes

O oceanógrafo revela que a tecnologia para investigação de contaminantes em amostras avançou bastante. Um exemplo citado por ele é que hoje, se pode medir com muita precisão a concentração de metais e outros compostos contaminantes nos tecidos mole e duro, o esqueleto, dos corais e coletar amostras com equipamentos muito sensíveis como espectrômetros de massa, como cromatógrafos a gás - equipamentos que já existem há muito tempo, mas que tem um grau de precisão e refinamento inédito.

“A gente consegue detectar concentrações muito pequenas. São muito os impactos ambientais e de diferentes naturezas. Seja por impacto ambiental com estresse eterno, como é o caso do  aquecimento global, ou impacto ambiental, como a poluição por um contaminante, conseguimos ver qual é o efeito dessas concentrações no metabolismo, no organismo e tudo mais. Antigamente, o equipamento só media grandes concentrações – aquelas que podiam levr à morte do organismo. Atualmente, essa medição mais refinada e ajuda a estudar o efeito de concentrações menores e suas consequências metabólicas”, salienta.

Biologia molecular

O coordenador do Coral Vivo, conta que a biologia molecular e a genética são grandes avanços na tecnologia e auxiliam diversos estudos, como o da população bacteriana que vive nos recifes. Elas são indicadores tanto da saúde, como da doença nos corais e o sequenciamento de DNA é uma ferramenta poderosa para isso.

“Ainda há os equipamentos manuais e que vão a campo – fotografias e trenas, por exemplo. Todo o estudo que realizamos tem como principal motivo, a informação e a mudança de hábitos nocivos das pessoas. O recife de corais é abrigo para cerca de 25% da vida marinha. Também é importante socioeconomicamente, já que gera alimento através da pesca; desenvolve o turismo com sua beleza natural; a exploração consciente de operadoras de mergulho, pousadas e restaurantes, que tem o segmento desenvolvido por conta dos corais. Ele ainda promove benefícios biotecnológicos e farmacêuticos, pois dele são extraídas substâncias que servem como remédios. É responsável também pela proteção costeira, sendo uma barreira submersa, impedindo a erosão da costa. O recife é algo de valor inestimável. Para se ter uma ideia, ele gera renda para 500 milhões de pessoas ao redor do mundo, tem um valor anual de 10 trilhões de dólares, mas somente enquanto estiver vivo. Por isso a importância da preservação da biodiversidade e, por consequência, dos benefícios socioeconômicos que vêm dele”, finaliza.


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