O dia 13 de março de 2013 veio trazendo marcas permanentes na vida do menino Uellinton Reis de Oliveira. Ele tinha apenas um ano de idade, quando guiava seu carrinho de pedal e partiu para cima de um amontoado de lixo que, mal sabia ele, encobria restos de um incêndio, onde as brasas ainda ardiam. O menino morava com os avós, no assentamento Lulão, próximo a Vera Cruz, uma área rural onde muitas pessoas ainda cultivam o hábito de queimar restos de mato, entulhos, plásticos e outros detritos.
Mais preocupado em defender seu veículo, que começou a pegar fogo, e sem ter a dimensão das graves conseqüências daquele acidente para sua saúde, Uellinton demorou a se livrar das chamas, que lhe causaram queimaduras de terceiro grau em ambos os pés. A partir daí, a família passou a enfrentar uma saga em busca de tratamento para devolver a saúde e salvar a infância do menino, hoje com nove anos.
“Já fomos 11 vezes a Salvador, dormimos em bancos de rodoviária e até hoje não conseguimos uma solução para o problema do meu filho”, conta a mãe Fernanda, que comprou o carrinho do menino com seu salário de garçonete. Segundo ela, o garoto recebeu os primeiros socorros no Posto de Saúde do assentamento e foi transferido em seguida para um hospital de Eunápolis, onde ficou um mês internado. “Ele estava ficando depressivo e só voltou a sorrir quando compramos outro carro, com ele ainda no hospital”, lembra a mãe.
Risco de vida
Fernanda conta que o processo de cicatrização corria bem, mas para ela a recuperação do filho foi prejudicada e seu quadro se agravou for falha do atendimento no Posto Saúde de Vera Cruz, onde eram feitos os curativos e, segundo ela, não colocaram espátulas separando os dedos da criança. Com isso, as queimaduras foram cicatrizando e os dedos ficaram atrofiados e colados na sola de um dos pés. “Agora os médicos dizem que como ele está crescendo muito, não tem espaço para a artéria, que corre o risco de romper e ele pode morrer”, lastima Fernanda.
Segundo ela, todos os profissionais que atenderam o menino apresentam o mesmo diagnóstico, sugerindo a amputação de dois dedos do pé direito. Acontece que com a pandemia, todos os procedimentos foram suspensos e a família não possui recursos para pagar a cirurgia no sistema privado, onde já foi orçada em cerca de R$ 60 mil. De acordo com a mãe e as tias do menino, agora ele está andando com dificuldade, além de sentir dormências e muitas dores à noite.
Sempre com um sorriso no rosto, Uellinton, tenta levar uma vida normal, calçando seu par de sandálias tipo Crocs. Com ela, além de encobrir os pés, ele consegue brincar e até jogar bola, mesmo que à noite vá dormir gemendo de dor. “Ele já sofreu muito bullying por parte das crianças do acampamento, que escondiam suas sandálias e ele chegava chorando na escola. Agora não podemos mais ficar esperando e não temos dinheiro para pagar a cirurgia”, desabafa a mãe.
A família espera apoio para conseguir tratamento aqui na região, onde poderiam acompanhar a criança mais de perto. “É muito triste ver seu filho perder os dedos, mas se é isso mesmo, e se não tem outra alternativa, que seja feita logo a cirurgia, porque o tempo vai passando e a situação dele só vai se agravando”. Enquanto espera, Uellinton alimenta seu sonho de um dia ser motorista de caminhão. E reescrever uma história bem diferente daquela que viveu a bordo do seu primeiro veículo.
Veja essa postagem também no Instagram do Jornal do Sol
LEIA TAMBÉM:
Covid-19: 65% dos leitos de UTI estão vagos
Santuário Spa Bahia realiza exames de mama gratuitos
Ciranda da Vida dedica apoio a pacientes com câncer
Dieta para atletas: alimentos-chave são fundamentais
Crianças e jovens menores de 15 anos precisam atualizar a vacinação