Aproveitar das adversidades é uma virtude importante, sobretudo quando estas são de verdade desafiadoras como está sendo agora a Covid-19. Não adianta se queixar, ou reclamar. O jeito é se conformar e enfrentar os desafios que esta pandemia nos apresenta.
Um dos desafios mais importantes e, sem dúvida, muito oportuno para ser considerado, é o enfrentamento da pandemia. Trata-se da oportunidade para desconstruir o inútil, o supérfluo e, de especial modo, o que é prejudicial. Não se trata de demolir, acabar, destruir, e sim, de tirar o que não é essencial para privilegiar o que realmente importa. Vamos pensar em alguns exemplos:
Desconstruir o costume de sair de casa
Um dos grandes riscos de se contaminar são “os passeios” nos supermercados, lojas, shopping, bares, restaurantes, feiras. Quantas destas atividades podem ser realizadas em casa, como preparar a comida, tomar uma cerveja ou drink com a própria família ou poucos vizinhos ou parentes. Basta se abastecer uma vez num grande centro comercial e depois utilizar estas compras.
Desconstruir o lazer em praias lotadas
Tem tantos recantos reservados perto do mar, ou trilhas nas matas, caminhadas em ciclovias pouco frequentadas, parques espaçosos. Sem desconsiderar a possibilidade de fazer exercícios físicos na própria casa, ou terraço e quintal.
Desconstruir o que caiu em desuso nas igrejas, armazém das prefeituras, depósitos semiabandonados
Aqui poderíamos ter muitas vantagens tais como aproveitar as pessoas dispostas a fazer este trabalho, vender o que for possível, abrigar nos espaços os sem teto ou mendigos.
Desconstruir o péssimo costume de apelar por Deus
Sabemos que a expressão “se Deus quiser” soa blasfêmia, pois Deus não pode ser usado nem como médico ou remédio, tampouco como responsável ou libertador da pandemia. Este uso constante de usar o nome de Deus não pode ser considerado sinal de fé, pois fere o segundo mandamento, banaliza a palavra que deve sempre ser usada com respeito reverência, mesmo nas pregações e cerimônias sagradas.
Deus sempre ajuda, mas não pode substituir as recomendações dos médicos e cientistas. Quem desconsidera as ordens dos especialistas deve ser considerado irresponsável a ser, sem demora, desconstruído, afastado e até responsabilizado pelas inúmeras mortes que a pandemia está gerando.
O convite a desconstruir o supérfluo vale também no que diz respeito às nossas manias, costumes exagerados, tradições esquisitas; devemos “aproveitar” a pandemia para nos purificar voltando a uma vida e costumes mais naturais, simples e comunitários.
Antônio Tamarri é professor de História e Teologia
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