Rodar 500 a 600 quilômetros por semana para receber tratamento oncológico, que não pode esperar. Mais: ficar longas horas aguardando os outros pacientes terminarem seus tratamentos para poder voltar para casa com o transporte da prefeitura. Esta é a dura realidade de dezenas de pessoas que enfrentam a terapia em busca da cura de um câncer. Como se não bastasse o terrível sofrimento de ter a doença.
O problema não atinge só Porto Seguro. Todos os moradores da Costa do Descobrimento e municípios vizinhos passam por essa triste dificuldade. Uma população de mais de 500 mil habitantes que não possui serviço de saúde multidisciplinar especializado no atendimento oncológico. Então, os pacientes precisam se deslocar semanalmente para outras cidades distantes, como Salvador, Itabuna, Ilhéus e Teixeira de Freitas.
Suporte para os pacientes
Diversos localidades no país, regiões com menor número de habitantes, já possuem este suporte. Por isso a reivindicação de trazer o tratamento para uma base regional e que atenda as cidades e distritos da região.
Segundo a Assessoria da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Seguro, os hospitais de referência estão localizados em Teixeira de Freitas a 224,9 km de Porto Seguro (Unacom – cirurgia e quimioterapia); Itabuna, a 276,8 km (Hospital Manoel Novaes - radioterapia) e Salvador, a 711,8 km (Hospital Aristides Maltez - cirurgia e quimioterapia). Ainda de acordo com a secretaria, o médico oncologista do município é quem define o local, conforme tratamento sugerido e os agendamentos para o tratamento são realizados via e-mail.
A prefeitura disponibiliza o transporte via TFD e as demandas estão sendo assistidas mesmo com o impacto da pandemia. A secretaria ainda informa que a pasta possui profissionais que acompanham os pacientes das Unidades dos bairros e distritos, os ACEs e os ACSs.
Números
A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é de que somente em 2021, o Brasil diagnostique mais 625 mil novos casos da doença, sendo os mais comuns, o câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata e o câncer de mama (117 mil, 66 mil e 66 mil novos casos, respectivamente).
Já as taxas de incidência (excetuando câncer de pele não melanoma) são: 215 para cada 100 mil homens e 145 para cada 100 mil mulheres. No caso da Região Nordeste do Brasil a incidência é de 28%.
Pacientes
A dona de casa Vera Vessoni, 67, mora há 7 anos em Arraial d’Ajuda e em agosto de 2019, se deparou com um câncer de mama, quando se preparava para uma cirurgia de coluna. “Notei que o bico do meu seio tinha se aprofundado, entrado para dentro (a chamada retração da mama). Mostrei para o médico e ele pediu para passar por um ginecologista, mas só teria vaga pelo SUS em cinco ou seis meses. Falei com a coordenadora do posto de saúde próximo à minha casa e ela estava marcando mamografias e conseguiu me encaixar para realizar o exame em dois meses, o que seria outubro. Em janeiro de 2020, a Secretaria de Saúde me chamou dizendo que havia algo suspeito e fui até o Hospital da Mulher, onde realizei um ultrassom da mama, que confirmou um câncer, dos mais agressivos”, explicou.
Após passar pelo oncologista, Vera foi encaminhada ao tratamento, primeiro em Salvador, depois a Teixeira de Freitas, passou pela cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. “Este acredito que foi o pior momento. Pois o corpo estava debilitado e tínhamos que ir até Teixeira para realizar a químio, depois a rádio em Itabuna. Tenho a coluna quebrada, então sofria muito com essa movimentação. Outro problema era ir até lá e não poder fazer o tratamento porque a máquina quebrou ou estava em falta o medicamento. Quanto ao atendimento não posso reclamar, mas a estrutura deixava a desejar neste sentido”, ressalta ela que agora aguarda para realizar uma bateria de exames para confirmar a extinção da doença.
A filha de Vera, Camila Vessoni relata que era sofrido ver a mãe ter que passar por esta situação e não ter muito o que fazer. “Perguntei ao médico se não seria melhor leva-la para São Paulo e ele disse que seria o mesmo tratamento, então decidimos continuar aqui. Acredito que se tivesse uma clínica para tratamento oncológico na região de Porto Seguro, os pacientes daqui estariam melhor amparados e o tratamento seria de menos sofrimento. Minha mãe, em uma dessas viagens a Teixeira, chegou a cair da maca, fora a questão de que as estradas não são tão boas e o percurso desgasta paciente e acompanhante. Pelo número de habitantes e de pacientes, o governo deveria investir neste espaço e garantir dignidade ao cidadão”, finaliza.
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Infelizmente ele veio a óbito em 2009. Vivi intensamente, com todas as mães, o sofrimento da separação da damília, que causa um desequilíbrio emocional e afeta nossa condição de cuidadora. Acho um descaso com a população da Costa do Descobrimento, uma falta de respeito, não termos a possibilidade de tratamento aqui para que os pacientes e seus familiares estejam juntos nesse momento difícil.
O tratamento para combater o câncer é cercado de possibilidades, estratégias, indicações... quimioterapia, radioterapia... e acima de tudo... o paciente e quem o cerca precisa estar amparado, com carinho e amor. E quem proporciona isso de forma consistente é a família.
Foi muito difícil tudo o que minha família passou, até nosso cachorro dálmata morreu de saudades (acredite se quiser). Espero que os governantes tenham sensibilidade com todos os pacientes e seus familiares, providenciando a condição de tratamento aqui na região.”