Covid-19: a pandemia na cabeça

Antonio Tamarri

Tem coisas que a gente só vê com olhos que choram. Isso tem uma explicação científica. A lágrima pode se colocar na frente da pupila como se fosse uma lupa e aumenta o tamanho do que estiver à frente.

Estamos, porém, numa situação em que as lágrimas pela morte de tantas pessoas não aumentam o tamanho do desastre. Tem gente que, desprezando a ciência e o número dos casos, seja entre países ricos que pobres, insiste em se recusar a vacinar.

Se for por determinação medica, a causa de situações sanitárias pessoais, é aceitável. Se for por motivos religiosos, tudo bem, mas gostaria conhecer a base deste motivos, sejam bíblicos ou doutrinais.

Mas se for por motivos políticos partidários, não tenho nenhuma dúvida em declarar estas pessoas completamente cegas, ridículas, inimigas da sociedade, perigosas, como foram os tantos paranoicos e esquizofrênicos que, infelizmente, existiram e existem neste mundo.

Quanto mal, mortes e estragos produziram à humanidade ditadores como Nero, Hitler, Mussolini, Stalin e Pinochet, entre outros. Pior: tiveram apoiadores, pessoas que, alienadas pela sede de poder, pela mania de grandeza e desprezo pelos demais, tiveram a ilusão de mudar o curso da história, insensíveis à morte alheia.

Verdadeiros loucos: Nero incendiando as casas dos plebeus para tocar harpa à luz das chamas. Hitler, já encurralados no bunquer de Berlim e prestes a ser preso pelos soldados aliados, brincando com o globo da terra, se considerando o dono dela.

Trata-se de aberrações que nunca mais aconteceriam na atualidade. Será mesmo? Como podemos definir as tentativas de suborno de vacina, atraso na distribuição, mentiras sobre o uso de remédio, justamente quando as nações registravam milhões de vidas ceifadas pelo vírus. Como justificar as mentiras deslavadas sobre a eficácia de remédios que a ciência, os órgãos de saúde e especialistas de fama internacional declaravam ineficazes?

É justamente a pandemia que agora desvenda o caráter assassino e irresponsável de tantos cidadãos que se recusam de usar as medidas de segurança estabelecidas pelas autoridades médicas e órgãos de governo. Como o uso de máscaras e a moderação com as aglomerações... mesmo sabendo que a pandemia está crescendo ainda!

Diante deste quadro, com toda a preocupação que a situação exige, acredito que podemos afirmar: além do vírus, devemos nos preocupar com as distorções dos limites, as fantasias e mentiras que circulam. Além do vírus é preciso cuidar da cabeça dos cidadãos. Educação, indústria, comércio, saúde, lazer... Tudo funciona simultaneamente e deve ser tratado em conjunto e com responsabilidade recíproca.


Antônio Tamarri é professor de História e Teologia - Foto: Getty Images

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