O lobo e o cordeiro

Antonio Tamarri

Quando o Papa Francisco afirma que na guerra não existe ganhador, apenas confirma a realidade. Tomar posse de uma nação destruída não é grande negócio, como também permanecer nela. As guerras sempre existiram e todas foram desastrosas para os contendores - como está acontecendo agora com a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Vale a pena lembrar, mais uma vez, do ensinamento das fábulas que, da Grécia, espalharam sabedoria para o mundo inteiro, como a d’O lobo e o Cordeiro, que  narra a história de um lobo e de um cordeiro que foram matar a sede no mesmo córrego que descia do monte. O lobo estava na parte mais alta, com muita vontade de atacar e devorar o cordeiro. Começou então uma conversa falsa, acusando o cordeiro de sujar a água que ele estava bebendo.

_ Não é possível, falou o cordeiro- pois o senhor está em cima e as águas correm para baixo.

_ Seis meses atrás, foi com seu pai que sujaram a água

 _ Mas eu nem tinha nascido...

O lobo furioso se jogou sobre o cordeiro e o devorou.

Sempre o mais forte, arranja desculpas para submeter o mais fraco. Não adianta argumentar que está cometendo uma injustiça, que não pode fazer isto; pior ainda se decidir enfrentar. O mais fraco, mesmo com todas as razões, corre o risco de sair machucado enfrentando o mais forte.

Se a Ucrânia, que sabia com muita antecedência quais eram as intenções de Putin, tivesse procurado logo negociar, tivesse procurado com urgência o apoio das nações ‘livres’; tivesse ponderado as consequências de um confronto armado com uma potência muito mais forte e arrogante, já culpada de outras invasões arbitrárias, mesmo arriscando de ser considerada covarde e fraca... talvez o mundo não teria caído na crise em que está agora.

Mais do que lutar contra a injustiça do mais forte, é preciso lutar contra as consequencias de uma guerra que sempre são piores que uma momentânea submissão. Precisava que, “antes” do conflito acontecer, as nações do mundo se mobilizassem e aplicassem as sanções que agora foram desencadeadas. Infelizmente estão acontecendo “depois” e, não apenas a Ucrânia esta sendo destruída, mas o mundo inteiro está chegando a ter as crises de abastecimento que agora ameaçam o nosso planeta.

É a velha questão de lamentar o leite derramado. Se o cordeiro tivesse logo fugido, ao invés de argumentar com o lobo, talvez teria salvo sua vida. E não tem cabimento argumentar que faz parte da vida aceitar o ditado dos gladiadores romanos “mors tua, vita meã” (a tua morte é a minha vida”). Como também, entre os homens, não pode existir a lei da floresta, onde o equilíbrio é garantido pela natureza, onde o carnívoro, que se multiplica muito menos devora os herbívoros que se reproduzem  muito mais.

Entre os homens, o equilíbrio se alcança quando se adota a lei da convivência e repartição dos bens. Quem não  aceita esta lei,  deve ser sempre e logo ser  isolado.  E não é apenas Putin que não respeita estas leis, mas também muitos e muitos outros que adotam os abusos do comércio,  da concorrência sem limites, da  exploração do trabalho, dos recurso naturais...


 Antônio Tamarri é professor de História e Teologia - Foto: Reprodução

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