Dois grandes pecados da humanidade

Antonio Tamarri

Tentativas de materializar o divino e desvalorizar o humano. Não é jogo de palavras. Mas é o que pode ser visto todo dia nas igrejas, casas de culto, santuários, templos... onde sacramentos, livros, orações, ritos, procissões, missas procuram passar a fé e a crença que Deus “aqui está”.

Também é preciso esclarecer que livros declarados sagrados como Bíblia, Alcorão e outros, não são em todas as partes e, em absoluto, palavras de Deus. Pois Deus não escreve diretamente, mas inspira, digamos, o escritor a redigir o texto. E estes escritos geralmente são manipulados por determinadas categorias sociais. E sempre condicionados pelos grupos dominantes.

Por isso, os estudiosos mais conhecidos e que aprofundaram cientificamente o estudo desses textos, afirmam abertamente que nestes livros pode ser encontrado todo o bem e todo o mal que existe no mundo. O bem é espirado por Deus; o mal é inspirado por interesses dos poderes dos governantes.

Quando se atribui a uma imagem, um gesto, uma celebração, um culto, a capacidade de tornar presente Deus, se extrapolem os poderes humanos. Não se pode materializar a presença de um Ser que não obedece a gestos, ritos e lugares materiais. A história relata que todas as tentativas de realizar estes milagres eram manipulações ou verdadeiras farsas.

Em nome da liberdade poderíamos deixar que cada um acreditasse no que quisesse, se esta “liberdade religiosa” não escondesse o que podemos definir o secundo grave pecado da humanidade: tirar do que é divino, por ser criado por Deus, por ser dádiva da natureza, tirar desta maravilhosa realidade o respeito que ela merece.

Quantas vezes ouvimos de padres, pastores, religiosos, pais de santo... o convite a participar dos eventos que costumam celebrar. Porém é lastimável o silencio de muitos perante o descuido ecológico, social, os abusos dos mais fortes, as explorações dos pobres, das mulheres e dos pequeninos...

Como é triste quando se chama uma guerra de “santa”, como foi feito com as cruzadas, a inquisição ou quando foram abençoados exércitos invasores. Liberdade religiosa não pode ser permissão para “não se meter” em problemas ecológicos e sociais, que estragam a divina criação de um universo que está se tornando casa vez mais abandonado.

Eventos religiosos, cultos, missas não podem se esquecer dos outros deveres sociais e humanitários. Não podemos fechar os olhos sobre a responsabilidade que todos os homens e mulheres devem ter para com a mãe terra, com o mundo que, embora material, é dom de Deus.

Devemos ter cuidado para que não aconteça que, enquanto os “bons” vivem na fé, os “maus” vivem fazendo guerras, injustiças e explorações. Criando misérias, desabrigados, migrantes... e pisando na realidade que somos todos filhos de Deus, portanto, irmãos.


Antônio Tamarri é professor de História e Teologia - Foto: reprodução mensagem.online

Siga o Jornal do Sol no Instagram

LEIA TAMBÉM:

Ulisses e a cegueira de Polifemo, das guerras e das catástrofes

O preço da democracia é a vigilância eterna

Por que tantas igrejas?

O lobo e o cordeiro

Espirito e carne separados não existem